Grávidas ponderam parto em casa com medo da ida para o hospital
A Associação pelos Direitos das Mulheres na Gravidez e Parto está a receber “bastante pedidos” de ajuda de grávidas assustadas com o cenário que podem encontrar nos hospitais devido à pandemia e algumas já ponderam fazer o parto em casa.
Outra situação que está a preocupar as grávidas e que já levou ao lançamento de uma petição, que já tem perto de 6.400 assinaturas, é o facto de hospitais estarem a impedir a presença de um acompanhante durante o trabalho de parto.
“Há pessoas que estão assustadas com a ideia de irem para o hospital e tendo tido uma gravidez sem problemas começam a ponderar alternativas como, por exemplo, procurar uma parteira independente que possa dar-lhes assistência ao parto em casa para evitarem ir ao hospital”, disse hoje à agência Lusa Mário Santos, da direção da Associação Portuguesa pelos Direitos das Mulheres na Gravidez e Parto.
Mário Santos adiantou que algumas grávidas estão a ponderar essa hipótese porque “o cenário no hospital mudou e passaram a reconhecer mais riscos” em fazer o parto no hospital.
À associação também chegam relatos de “experiências menos positivas durante o parto por causa de toda esta situação”.
“Mas tudo isto é uma situação delicada” para a associação. “Por um lado, queremos colocar-nos ao lado das mulheres e tentarmos dar-lhes apoio direto, mas sabemos também que esse quadro nos hospitais é muito delicado e muito difícil para todos, para os profissionais”, afirmou.
Segundo Mário Santos, uma das questões que “tem sido mais difícil” é a restrição de as mulheres não poderem ter um acompanhante durante o trabalho de parto.
“Isso por um lado, pareceu-nos muito radical, mas por outro lado, e também ouvindo alguns profissionais, percebemos que na verdade nós não sabemos muito bem como lidar com esta situação”, disse, explicando que esta medida “poderá ser eventualmente uma resposta eficaz”, para reduzir o número de pessoas nos hospitais, mas é “muito danoso para a experiência de parto das mulheres”.
Para Mário Santos, “o problema é a incerteza”, não se saber o que poderá ser mais ou menos benéfico.
Contudo, defendeu, “o consentimento informado deve continuar a ser respeitado”. A vontade da mulher que não esteja infetada com covid-19 de querer amamentar e ter o bebé deve “ser soberana”, desde que “as condições não sejam de catástrofe e de um cenário mais caótico do que aquele que temos agora”.
Sandra Oliveira, autora do livro Nascer Saudável, lamentou, por seu turno à Lusa, não haver, até à data, informação específica do que está a acontecer nos hospitais e nos blocos de partos.
“É importante num quadro de pandemia haver verdade e muita transparência naquilo que possa estar a acontecer nos hospitais para fazer restrições como as que estão a ser feitas às grávidas, no que diz respeito a um direito essencial de ter um acompanhante”, disse a ativista na área da saúde e da maternidade.
Sandra Oliveira sublinhou que já saíram Orientações da Organização Mundial de Saúde e que, por exemplo, em Itália, Espanha, Reino Unido as orientações obstétricas estão a ser atualizadas quase ao dia para os profissionais de saúde a nível de equipamento de proteção individual.
“As mulheres estão assustadas e acima de tudo num vazio enorme de informação. Não há estado de emergência nenhum que possa tirar o direito de informação” de as mulheres saberem porque os hospitais estão a tomar estas medidas, defendeu.
“As grávidas têm de estar a ligar para o hospital para perceber o que vão encontrar, isto é inadmissível”, disse, apelando à Direção-Geral da saúde e à ministra da Saúde para que haja transparência nas orientações que estão a dar aos profissionais de saúde e aos hospitais.
A petição lembra que a Organização Mundial de Saúde defende que todas as grávidas têm direito a um parto digno, independentemente da haver suspeita ou confirmação de infeção por coronavírus, garantindo o direito à presença de um acompanhante.
Nesse sentido, apela ao Estado português para que possa estabelecer “um protocolo nacional que abranja todos os hospitais de Portugal e que este esteja em sintonia com as recomendações da OMS, uma vez que tais cuidados já estão contemplados na lei nacional.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 386 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 17.000.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 6.077 mortos em 63.927 casos. Segundo as autoridades italianas, 7.024 dos infetados já estão curados.
Em Portugal, há 30 mortes, mais sete do que na véspera, e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que regista mais 302 casos do que na segunda-feira.
Dos infetados, 203 estão internados, 48 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram.
Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.
Além disso, o Governo declarou dia 17 o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.