O Governo do Equador pediu hoje uma sessão extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA) para denunciar uma tentativa de derrube da ordem democrática, depois de ter colocado o exército nas ruas para estancar manifestações de protesto.
O exército do Equador saiu hoje às ruas para impor o recolher obrigatório imposto pelo Presidente Lenín Moreno, em resposta a uma série de violentas manifestações do movimento indígena, que duram há dez dias, contra o Governo.
O Presidente considera que os manifestantes estão a tentar alterar “a ordem democrática no país” e considera que os protestos estão a ser motivados por interesses infiltrados e acusou o seu antecessor, Rafael Correa (2007-2017), e o Presidente eleito da Venezuela, Nicolas Maduro, de estarem por detrás dos atos de violência.
Ao fim de dez dias de manifestações de protesto do movimento indígena do Equador contra medidas de austeridade impostas pelo Governo, os confrontos entre manifestantes e autoridades, no sábado, levaram o Presidente a decretar o recolher obrigatório, imposto por forte dispositivo militar, e a solicitar uma sessão extraordinária da OEA, para tentar estancar a escalada de protestos.
Mais de 30 pessoas foram detidas, durante a madrugada de hoje, com grupos de manifestantes a destruir edifícios governamentais e sedes de meios de comunicação social, obrigando o Presidente e o seu vice-Presidente e ministro da Defesa a aparecer na estação estatal de televisão a apelar à calma.
“Vamos restaurar a ordem no Equador”, disse hoje Lenín Moreno, para justificar a forte presença militar que se tem verificado nas últimas horas e que procura estancar os confrontos violentos da manifestação de sábado.
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, durante a semana, já tinha pedido às partes para encetarem o diálogo, criticando a violência das manifestações, mas pedindo ao Governo do Equador para garantir a liberdade de expressão e de manifestações pacíficas.
No sábado, o movimento indígena aceitou sentar-se à mesa com o Presidente, hoje, para iniciar negociações, mostrando uma abertura que tinha recusado por várias vezes, ao longo dos últimos dias.
O escritório da ONU em Quito e a conferência de bispos do Equador, num comunicado conjunto, anunciaram hoje que confiam “na vontade de todos para estabelecer um diálogo de boa fé” para “encontrar uma solução rápida para a complexa situação que se vive no país”.
Mas a Confederação das Nações Indígenas do Equador disse que, embora estando disponível para negociações, continuaria os protestos nas ruas.
Leonidas Iza, um líder indígena da província de Cotopaxi, apoiou a decisão do recolher obrigatório, pedindo às autoridades para “garantirem a paz e trazerem de volta a ordem constitucional”, mas chamou a atenção para o facto de o Governo continuar a ignorar os apelos para uma mudança de atitude política.
Os manifestantes protestam contra as medidas de austeridade exigidas pelo Fundo Monetário Internacional, com contrapartida do resgate financeiro ao país que se viu profundamente endividado após uma década de elevados défices e de queda do preço do petróleo, uma das principais fontes de receita económica do Equador.
Entre essas medidas, uma das mais contestadas é a eliminação de um subsídio do preço dos combustíveis, em 02 de outubro, elevando a variedade mais popular de gasolina para preços recorde, o que provocou de forma rápida operações de especulação comercial e a subida de preços de diversos produtos essenciais.
Cinco civis, incluindo um dirigente indígena, foram mortos pela polícia desde o início dos protestos, anunciaram na sexta-feira os serviços do Defensor do Povo, um organismo estatal que também mencionou 554 feridos e 929 detenções.