O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, é hoje ouvido na comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD), no âmbito da auditoria realizada à gestão do banco público entre 2000 e 2015.
O papel do hoje governador enquanto administrador do banco público, entre abril de 2004 e setembro de 2006, será objeto de análise por parte dos deputados, pelas 17:00, na Assembleia da República, em Lisboa.
Na audição a Carlos Costa, estará na ‘mira’ da comissão de inquérito a alegada participação do governador, como membro do Conselho de Administração da CGD, “em pelo menos quatro reuniões do Conselho Alargado de Crédito” do banco público, “nas quais foram aprovados empréstimos a devedores problemáticos” identificados na auditoria da EY, de acordo com a revista Sábado de 07 de fevereiro.
Em reação, o governador informou que comunicou ao Conselho de Administração do BdP a “sua intenção de não participar nas decisões do Banco de Portugal decorrentes das conclusões” da auditoria da EY à Caixa Geral de Depósitos, acrescentando em 11 de fevereiro que o “pedido de escusa” tinha já sido apresentado em 06 de novembro de 2018.
Mais tarde, em entrevista à SIC, em 19 de fevereiro, disse que não participou em nenhum Conselho Alargado de Crédito relativo aos “25 grandes créditos que geraram imparidades para a Caixa”.
Carlos Costa disse que exerceu funções na CGD como “responsável pelas áreas de marketing e internacional da instituição” e que durante esse período “não teve responsabilidades nas áreas de crédito, risco, acompanhamento de clientes ou de controlo e auditoria interna”.
Num terceiro esclarecimento, em 15 de fevereiro, numa reação a uma notícia do Jornal Económico que dava conta da sua participação na aprovação do crédito de 194 milhões de euros a Vale do Lobo, explicou que as férias que passou no empreendimento não suscitam “qualquer conflito de interesses”, uma vez que as pagou, e que “o financiamento da CGD a Vale do Lobo teve a aprovação final numa reunião do Conselho Alargado de Crédito que não contou com a presença do governador.”
Na entrevista à SIC, Carlos Costa reiterou a ideia e esclareceu que apenas participou numa reunião anterior, em que foram decididas as condições em que o banco eventualmente emprestaria dinheiro a um futuro investidor no empreendimento.
No entanto, apesar dos esclarecimentos de Carlos Costa, as opiniões negativas sobre o governador fizeram-se ouvir da esquerda à direita: o Bloco de Esquerda, em 11 de fevereiro deste ano, pediu a sua exoneração, hipótese que o CDS-PP não excluiu.
Já o PS, na voz de Carlos César, considerou o pedido precipitado, mas classificou o desempenho de Carlos Costa como “marcado pela passividade”. António Leitão Amaro, do PSD, disse que para o partido “não há intocáveis”, apesar de não concordar com o pedido de exoneração.
Uma versão preliminar da auditoria, relativa à gestão da CGD entre 2000 e 2015 e revelada em 20 de janeiro pela comentadora da CMTV e antiga dirigente do Bloco de Esquerda (BE) Joana Amaral Dias, conta que os administradores da CGD receberam “remuneração variável” e “voto de confiança”, mesmo com resultados negativos.
No entanto, no dia 24 de janeiro, a auditora afirmou-se apenas vinculada ao relatório final da auditoria que emitiu em junho de 2018, pelo que documentos como a versão preliminar “não devem ser considerados”.
Em 01 de fevereiro, o presidente executivo da CGD, Paulo Macedo, entregou na Assembleia da República a versão final da auditoria, mas com omissões de nomes de devedores, valores de créditos e exposição do banco público.
O relator da II Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da CGD e à Gestão do Banco, como é oficialmente designada, será o deputado João Almeida, do CDS-PP.
Na quarta-feira, será ouvido na comissão o anterior governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio.
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