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Gaspar, o quarto membro de uma troika? “Insultuoso”, diz o ex-ministro das Finanças

vitor gaspar3ces gaspar ministro Ex-titular da pasta das Finanças, Vítor Gaspar, acha “insultuoso” ser considerado “o quarto elemento da troika”. Em entrevista ao jornal Público, Vítor Gaspar defende que foi “um negociador bem sucedido”, na defesa dos “interesses nacionais”. O antigo ministro salienta ainda que não é verdade que tenha estado alheado do fenómeno do desemprego.

Vítor Gaspar foi repetidamente acusado, enquanto ministro das Finanças, de ser um representante da troika em Portugal, por não ter liderado um processo de renegociação do memorando e por ter, tal como a troika, demonstrado pouca preocupação com as questões sociais que o país atravessa – em especial o desemprego.

Agora, numa entrevista ao Público, o ex-ministro revela que aceitou mal essa crítica, que classifica de “insultuosa”. Vítor Gaspar afirma, nesta entrevista, que foi “bem sucedido” nas negociações que empreendeu, ao serviço do Governo.

“Julgo ter sido um negociador bem-sucedido em nome dos interesses nacionais, porque foi possível ajustar duas vezes, e muito consideravelmente, os limites do défice e da dívida sem que tenha havido a menor perturbação nas nossas relações com os credores oficiais e com os mercados financeiros”, afirma Vítor Gaspar, nesta entrevista.

O ex-titular da pasta das Finanças faz um auto-elogio ao seu desempenho no executivo de Pedro Passos Coelho e diz “não é possível apontar nenhum outro caso em que o processo [de ajustamento] tenha sido conseguido com esse grau de tranquilidade”.

Sobre as relações com a troika – Vítor Gaspar foi por diversas vezes acusado de pouca firmeza perante políticas recessivas com maus resultados noutros países – o ex-ministro considera que estabeleceu uma “base fundamental para melhor defender os interesses de Portugal”, disse ainda.

Por outro lado, Vítor Gaspar não aceita outra crítica de que foi alvo: revelar pouca preocupação com os problemas sociais que as políticas de austeridade que defendeu estavam a provocar. O ex-governante assume que não passou ao lado desses problemas, “com ênfase para o fenómeno do desemprego”.

A razão da saída do Governo prende-se – segundo afirmou Gaspar nesta entrevista – com o facto de as políticas que defendia não estarem a cumprir os objetivos que o memorando definia. Mas Vítor Gaspar não fala, no entanto, em incumprimento. “As metas iniciais do programa foram renegociadas antes do momento em que o seu incumprimento se colocaria”, justifica.

Esta entrevista ao Público surge dias depois de Vítor Gaspar ter abordado a sua relação política com Paulo Portas. “Era uma guerra de políticas. Ou era um ou era outro”, revelou, num livro da jornalista Maria João Avilez.

Vítor Gaspar, que é atualmente consultor do governador do Banco de Portugal, defende que a reforma do Estado só não avançou mais cedo porque há interesses instalados, solidamente enraizados desde o Estado corporativo construído por Salazar.

O ex-ministro das Finanças demitiu-se do cargo em junho de 2013, sendo substituído por Maria João Albuquerque, numa remodelação no Governo que não agradou a Paulo Portas.

O líder do CDS-PP viria, então, a apresentar a sua demissão “irrevogável”, mas que deixou de o ser, num recuo que permitiu ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho evitar a queda do Governo.

Paulo Portas viria então a ser promovido a vice-primeiro-ministro, reforçando o seu poder no executivo.

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