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“Fugi, ele já não teve tempo”, conta trabalhador da pedreira de Borba

Joaquim Saragoza tem 55 anos e jamais irá esquecer a tarde de 19 de novembro de 2018, quando parte de uma estrada ruiu para o interior de uma pedreira onde trabalhava, na zona de Borba. Ao Observador, Joaquim conta o que viu e o que sente, lembrando os colegas e revelando que um deles perdeu a vida a tentar salvar uma máquina que também acabaria arrastada.

“Doído por dentro”, começa por desabafar, ao Observador, este homem que, aos 55 anos, viveu uma experiência traumática na pedreira onde trabalha.

“Um gajo fica com isto metido na cabeça”, reconhece este homem que vive do trabalho nas pedras há 22 anos.

Com ele estava também Gualdino Pita, que ainda correu em fuga, mas o instinto levou-o para trás para tentar salvar a máquina de trabalho, junto da qual acabou por ser encontrado já sem vida pelas equipas de resgate.

Dos seis operários que lá estava, quatro conseguiram escapar, dois (Gualdino Pita de 49 anos e João Xavier, de 58) não e perderam a vida no acidente da queda de estrada 255 que liga Borba a Vila Viçosa.

Com o passar dos dias, Joaquim Saragoza continua sem compreender o que se passou e relata os momentos de pânico que se viveram na altura em que a estrada ruiu para dentro da pedreira.

“Quando vimos a água toda no ar, uma coisa enorme, parecia um tsunami. Ficámos ali parados sem saber o que havíamos de fazer. Os nosso colegas que estavam do lado de lá começaram aos gritos para a gente fugir.”

Este sobrevivente da queda da estrada 255 para dentro da pedreira, diz que ainda viu Gualdino Pita correr atrás de si, mas depois voltou para trás.

“Quis tirar a máquina e voltou para trás. Já não teve tempo”, conta, explicando que se a pedreira continuar a funcionar voltará a trabalhar.

Pode ler a entrevista na íntegra

No passado dia 19 de novembro, a deslocação de uma quantidade significativa de rochas, de blocos de mármore e de terra para o interior de duas pedreiras contíguas à estrada 255, causou a morte de dois trabalhadores de uma empresa de extração de mármores (cujos corpos já foram recuperados) e, pelo menos, três desaparecidos, que seguiam em dois automóveis.

O Ministério Público instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias do acidente, que é dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação penal (DIAP) de Évora, e duas equipas da Polícia Judiciária estão a proceder a averiguações.

O Presidente da República já avisou que, após se confirmar o número de vítimas da derrocada da estrada 255 em Borba e se recuperarem os corpos, chegará a fase de apurar factos, eventuais responsabilidades e reparar familiares.

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