Economia

FMI desvaloriza divergência sobre défice e diz que números serão revistos

O diretor adjunto do departamento de Assuntos Fiscais do Fundo Monetário Internacional (FMI) desvalorizou hoje à Lusa a divergência entre o Fundo e o Governo português sobre as previsões para a evolução do défice orçamental.

“Vamos ter sempre visões diferentes sobre o crescimento, o défice ou o rácio da dívida, mas o que vai acontecer é que a atualização dos números [do FMI] será incorporada na nova previsão”, disse Abdel Senhadji, sublinhando que “as diferenças também não são assim tão grandes”.

Em declarações à Lusa em Washington, no âmbito dos Encontros da Primavera, o diretor adjunto do departamento de Assuntos Fiscais, liderado por Vitor Gaspar, desvalorizou a diferença nas previsões sobre a evolução do défice orçamental, salientando que os números do FMI foram apurados antes da divulgação das Previsões Económicas Mundiais, apresentadas na terça-feira, e que as estimativas do Fundo para o crescimento e a inflação até são melhores do que as do Governo.

“Para o crescimento e a inflação, até somos ligeiramente mais otimistas do que o Governo português”, exemplificou Abdel Senhadji, notando que em maio, durante as conversações ao abrigo da análise do Artigo IV, o FMI vai apresentar novas previsões para Portugal.

“Há uma questão de prazos; os números serão discutidos com as autoridades e será feita uma nova onda de previsões, e depois vamos atualizar em julho as Previsões Económicas Mundiais, depois do debate no âmbito do Artigo IV com Portugal, na segunda metade de maio”, acrescentou.

“As diferenças também não são assim tão grandes”, vincou.

Questionado sobre se o objetivo da atualização era equiparar as previsões às metas estabelecidas pelo Governo no Programa de Estabilidade, Abdel Senhadji respondeu: “Ficar iguais não sei, vamos ter sempre visões diferentes, a nova divulgação será incorporada na previsão da equipa, isso não significa que será igual, mas será tido em conta”.

O FMI estima um défice de 1 por cento do PIB este ano em Portugal e que o saldo se mantenha negativo até 2023, ao contrário do Governo português, que prevê apresentar um défice perto de zero já em 2019.

No ‘Fiscal Monitor’, relatório com as previsões orçamentais do mundo, o FMI melhorou ligeiramente a estimativa para o défice orçamental português deste ano para 1 por cento do PIB, face aos 1,1 por cento que tinha antecipado em fevereiro.

Apesar de ter melhorado a estimativa do défice de 2018, o Fundo prevê um défice superior em 0,3 pontos percentuais perante o assumido pelo Governo no Programa de Estabilidade entregue à Assembleia da República na sexta-feira.

As projeções referentes a Portugal, que são coordenadas pelo ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar – agora diretor do FMI –, baseiam-se no Orçamento do Estado para 2018 (OE2018) e foram “ajustadas para refletir as previsões macroeconómicas” do Fundo.

Na terça-feira, a instituição liderada por Christine Lagarde mostrou-se ligeiramente mais otimista para 2018, esperando mais crescimento económico (2,4 por cento) e menos desemprego (taxa de 7,3 por cento) do que o Governo. No Programa de Estabilidade, o executivo antecipa um crescimento económico de 2,3 por cento este ano e uma taxa de desemprego de 7,6 por cento.

As estimativas orçamentais do FMI até 2023 são também menos otimistas do que as do executivo liderado por António Costa.

No Programa de Estabilidade, o Governo compromete-se com um défice orçamental próximo de zero (0,2 por cento do PIB) já em 2019, último ano de legislatura e ano de eleições europeias e legislativas. A partir daí, são esperados excedentes orçamentais que crescem todos os anos: 0,7 por cento do PIB em 2020, 1,4 por cento em 2021 e 1,3 por cento em 2022.

No entanto, o FMI – que tem como base um cenário de políticas invariantes para os próximos anos – não só não acredita em excedentes orçamentais até 2023, como considera que até esse ano o défice continuará mais perto de 1 por cento do que de zero.

No ‘Fiscal Monitor’, o Fundo estima que Portugal tenha um défice orçamental de 0,9 por cento em 2019, de 0,8 por cento em 2020, de 0,7 por cento em 2021 e de 0,6 por cento em 2022 e em 2023.

O saldo primário, que exclui os encargos com a dívida pública, vai manter-se acima dos 2 por cento neste período de previsões, segundo o FMI: 2,3 por cento em 2018 e em 2019, 2,2 por cento em 2020 e em 2021 e 2,1 por cento em 2022 e 2023.

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