O filme “Raiva”, de Sérgio Tréfaut, tem estreia marcada para quinta-feira, no Brasil, e enquadra-se na realidade do país, que “caminha para a catástrofe absoluta com o Governo Bolsonaro”, afirma a produtora Carolina Dias, da Refinaria Filmes.
“Acredito que ‘Raiva’ terá uma ótima receção no Brasil por parte da crítica e do público. (…). Trata de um tema que permanece, infelizmente, ainda contemporâneo e universal – a luta pela terra, pela sobrevivência, a fome, a dignidade. Essa história poderia ter acontecido aqui. No caso do Brasil, essa luta está longe de acabar, principalmente com este novo (des)governo”, frisou a produtora brasileira Carolina Dias em entrevista à agência Lusa.
“Raiva”, uma coprodução entre Portugal, Brasil e França, dirigida por Sérgio Tréfaut, passa-se nos anos de 1950, nos campos do Baixo Alentejo, em plena ditadura de Oliveira Salazar, e mostra um interior assolado pela pobreza extrema, que, na visão da produtora brasileira, poderá ajudar o Brasil a refletir sobre os tempos que o país sul-americano atravessa agora.
“No Brasil, hoje, estamos a voltar [atrás] no tempo, mas para muito antes dos anos de 1950. Aqui, fala-se muito da violência, mas é preciso que a população entenda que a violência só vai melhorar quando todos puderem viver dignamente, e não somente sobreviver a muito duras penas. Assim, espero que o [filme] ‘Raiva’ possa ajudar a suscitar debate e reflexão, muito necessários nos tempos que vivemos”, declarou.
Sérgio Tréfaut, realizador do filme, nascido no estado brasileiro de São Paulo, partilha da opinião de Carolina Dias e defende que “Raiva” é um filme extremamente atual para o Brasil, “retratando uma situação de abuso perpetrada por quem tem meios financeiros e perverte o poder político, o poder religioso, a polícia e, implicitamente, o poder judicial”.
O filme fechou em maio do ano passado o festival IndieLisboa, foi apresentado em diferentes certames internacionais e teve estreia no circuito comercial português no final de outubro, em salas de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora.
“Raiva” parte do romance “Seara de Vento”, de Manuel da Fonseca, uma das obras-chave da literatura neorrealista. Foi originalmente publicada em 1958, mas desde logo proibida pela ditadura do Estado Novo, até á sua queda, em 1974.
A narrativa centra-se no drama de uma família em ambiente rural, atingida pela pobreza e pela injustiça. Como a obra literária, o filme aborda questões ainda atuais sobre poder e pobreza.
“Esses problemas existem e terão sempre de ser resolvidos, independentemente de alguém vir e dizer que a solução está encontrada”, afirmou Tréfaut à agência Lusa, em maio, quando a obra foi apresentada no IndieLisboa.
Conhecido sobretudo pelo trabalho em documentário, Sérgio Tréfaut assina em “Raiva” a segunda longa-metragem de ficção, depois de “Viagem a Portugal” (2011).
“Outro País” (2000), “Fleurette” (2002), “Lisboetas” (2004), “A Cidade dos Mortos” (2009), “Alentejo, Alentejo” (2014) e “Treblinka” (2016) são filmes anteriores do realizador português, que nasceu no Brasil em 1965.
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