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Ferreira Leite antevê “Portugal destroçado” por políticas “catastróficas”

manuela ferreira leiteAntiga líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, ex-ministra com a pasta das Finanças teceu ontem duras críticas à política do Governo de Passos Coelho, no programa ‘Política Mesmo’, da TVI24. Ferreira Leite lamentou as mudanças na Taxa Social Única e vaticinou que Portugal “chegará ao fim do programa da troika destroçado”. A social-democrata antevê a catástrofe e pergunta ao ministro das Finanças, Vítor Gaspar, como conseguirá o milagre de colocar o défice nos 2,5 por cento, dentro de dois anos.

Já se sabia que a antiga líder do PSD não era uma apoiante incondicional de Pedro Passos Coelho, mas as palavras de Manuela Ferreira Leite, no programa da TVI ‘Política Mesmo’, não representam apenas uma diferença de ideal. São provavelmente as mais duras críticas de uma figura proeminente do partido às políticas do Governo e superaram o tom duro de Marcelo Rebelo de Sousa.

Ferreira Leite traça um cenário negro para o futuro de Portugal e vislumbra um fracasso total na receita imposta pela troika. “Não vão ser atingidos os objetivos definidos e o país chegará ao fim do programa destroçado”, vaticina.

Apesar de reconhecer que, se estivesse no lugar de Passos Coelho, teria de “tomar muitas das decisões que estão a ser tomadas pelo Governo”, uma vez que essas resultam do memorando assinado pelo PS, Manuela Ferreira Leite salienta que neste momento estaria a “berrar nas instâncias europeias”, uma vez que as decisões que foram impostas a Portugal estão a ser cumpridas e o reflexo é “catastrófico”.

Entre as palavras duras de Ferreira Leite, destaca-se uma questão lançada pela ex-conselheira do Presidente da República, à qual o Governo terá de dar resposta. “Se são precisas estas medidas de austeridade para reduzir o défice para cinco por cento, que medidas aplicará o Governo quando tiver de passar para um défice de 2,5 por cento? Como conseguirá esse feito?”.

Acresce que Portugal “não consegue crescimento sem investimento” e as repetidas medidas de austeridade, segundo Manuela Ferreira, levarão Portugal a “cair no fundo”. O Governo é acusado de seguir “modelos perniciosos”, sem qualquer “adequação à realidade”, numa “navegação à vista” que não permitirá “saltar daqui para o crescimento”.

Por outro lado, as alterações na taxa social única “vão gerar desemprego” e representam um golpe nas vitórias conseguidas em sede de concertação social. E Manuela Ferreira Leite faz mais uma pergunta: “Como pode o secretário-geral de uma central sindical aceitar uma medida que vai aumentar o desemprego?”

A ex-dirigente social-democrata salienta que “ninguém foi ouvido sobre a taxa social única” e que “ninguém a defende”, apenas o Governo de Passos Coelho. Ao mesmo tempo, Ferreira Leite critica a opção do executivo em avançar com a medida, que não é mais do que transferir dinheiro do rendimento de trabalhadores “para empresas que podem abrir falência dentro de alguns meses”.

Também a declaração do ministro das Finanças (palavras que Manuela Ferreira Leite entende como intromissão do Estado na gestão das empresas) suscitou uma crítica em tom irónico: “Senti-me como na União Soviética de outros tempos… O ministro das Finanças quer gerir a tesouraria das empresas privadas? Isso existe onde? Como é que isso é possível?”.

Num olhar para o parceiro de coligação no Governo, Ferreira Leite considerou que “o CDS não deve saber de muitas decisões tomadas”, uma vez que essas decisões “não vão de encontro ao que o partido prometeu ao eleitorado”.

A social-democrata diz-se surpreendida com Passos Coelho e comentou a célebre expressão do primeiro-ministro, quando este disse que o país tinha de empobrecer. “Entendi essas palavras como a necessidade de se reduzirem rendimentos. Mas não desta forma, com um impacto tão violento. É um empobrecimento sem visão de futuro”, sublinhou Manuela Ferreira Leite, que considera que muitas medidas tomadas pelo Governo “são ilegais”.

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