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Fechado numa cave pela mãe foi salvo pelos próprios gemidos

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As paredes de uma casa da Amoreira, em Cascais, escondiam uma história de horror, numa família que a GNR já tinha sinalizado, após diversas queixas de agressões. Um homem de 38 anos foi encontrado preso numa cave, sem condições de higiene. Sofreu e foi salvo pelo som desse sofrimento. A mãe, alegada autora deste encarceramento, foi detida.

A casa do lote 24 é cinzenta, assim como a história que esconde. Aquela moradia da Rua Nova da Ribeira alberga uma família (mãe, companheiro e dois filhos do casal) que se resguarda do mundo. As persianas raramente se abrem, o contacto com os vizinhos é violento. Normalmente, agressões.

E por isso esta família estava sinalizada pelas autoridades, quer pela GNR de Alcabideche, quer pela Segurança Social. Em sido assim nas últimas duas décadas.

Mais um episódio como esses, tão frequentes, levou a polícia ao local, só que, desta vez, algo de sinistro foi encontrado: um homem de 38 anos foi encontrado na cave, sem higiene ou de respeito pela condição humana.

Estaria encerrado numa espécie de cativeiro há pelo menos oito anos. É filho de uma mãe que nunca soube lidar com alegados problemas psiquiátricos da vítima. A mãe é classificada pelos vizinhos com poucas palavras. “É um demónio”, diz uma vizinha ao Público.

A GNR está a investigar o caso, sabendo-se que se descobriu o mais importante, mas que haverá detalhes sinistros que ainda escapam à polícia e que as formalidades a cumprir permitirão descobrir. Outras, porém, ficarão no silêncio, o mesmo silêncio que deixou aquele homem em condições precárias.

A versão da mãe, o cativeiro do filho serviu “para o proteger”. Conta aquele diário que o homem era “muito agressivo”. A verdade é que não foi visto pelos vizinhos nos últimos tempos. E tempos são anos.

Os vizinhos recordam uma criança que, tal como os seus amigos, ia à escola e brincava na rua. Não há memória de agressividade.

O desaparecimento da vítima suscitou alguma curiosidade nesses vizinhos, mas não a suficiente para querer saber mais. Corria a versão de que estava institucionalizado, por vontade da família. Ninguém imaginaria que o cativeiro naquela casa cinzenta era a sua instituição.

Outros vizinhos contam também ao Público que viram o jovem tentar fugir de uma das janelas da casa. Recordam a presença de técnicas, assistentes sociais, mas que eram reiteradamente mal recebidas pela mãe.

Passaram-se os anos e ninguém quis saber. O homem deixa de ser visto e ouvido, deixa de ser problema dos outros e assim desvaneceu a curiosidade. Onde estaria o filho do “demónio”?

A resposta chegou com um gemido. Com vários gemidos ouvidos pelos militares da GNR de Alcabideche, que tinha sido chamada ao local após mais um incidente com agressões envolvendo aquela família e a comunidade.

“O contacto com a senhora não foi fácil. Tinha um discurso sem qualquer coerência e suspeitamos, por isso, que possa ter uma anomalia psíquica, mas isso só poderá ser confirmado mais tarde por especialistas”, conta ao Público o tenente Filipe Costa.

Os gemidos eram provenientes de uma cave suja, escura, doentia. Era ali que vivia o homem. Na casa, dispersavam-se armas como catanas e facas. Talvez usadas para segurar e ameaçar ou agredir o prisioneiro.

“Encontrámos um portão de ferro fechado com correntes e um cadeado. Dentro da cave só encontrámos o homem e baldes. Não tinha nada que servisse para dormir e suspeitamos que fizesse as suas necessidades fisiológicas ali mesmo. A divisão não tem janelas. O homem não estava ferido nem com magreza característica de estar desnutrido, mas foi levado para o hospital”, resume àquele jornal o tenente Costa.

A família vive em Portugal há duas décadas. É oriunda de Cabo Verde. Na mesma casa cinzenta vivia o companheiro da mãe e pai dos mais jovens.

A irmã do homem que estava preso na cave tem 26 anos de idade. Não se sabe se foi vítima de tratamento semelhante ou de outros maus-tratos. A polícia investiga.

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