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“Por favor não matem os velhinhos”. Jovem do cartaz pronuncia-se sobre a polémica

O debate público sobre a eutanásia ficou marcado pela viralização de um cartão onde se lia “Por favor não matem os velhinhos”. Vera Sousa, a jovem que o empunhava, falou pela primeira vez sobre a polémica.

A imagem tornou-se num símbolo do que foi o debate público  sobre a morte medicamente assistida, vulgarmente apelidada de eutanásia. Uma troca de chavões, entre o “direito à morte digna” (dos que a defendem) e o “respeito pela vida” (pelos que a criticam), sem explicações que permitam compreender do que verdadeiramente se trata.

Enquanto o Parlamento debatia e votava (chumbando) quatro projetos de lei, à porta decorria uma manifestação “a favor da vida”. E uma fotografia viralizou, por culpa de um cartaz com um inesperado pedido.

“Por favor não matem os velhinhos”.

O cartaz era empunhado por Vera Sousa, uma jovem estudante de Medicina que evitou pronunciar-se sobre a polémica. Gozada nas redes sociais, reagiu agora, com uma longa explicação.

“Prefiro ser criticada por aquilo que realmente sou e acredito e não pela imagem totalmente distorcida e ridícula que alguns procuraram criar”, justificou-se.

E em que acredita a jovem mais famosa de Portugal nos últimos dias?

“A condição mais frágil e débil, possíveis fracos recursos económicos e falta de acesso a cuidados paliativos” tornará os “velhinhos” mais suscetíveis a recorrer à eutanásia, “caso esta opção seja legitimada pela sociedade e facultada pelos serviços do Estado”.

“Como é evidente, ninguém associa a eutanásia à ‘abertura da época de caça aos velhinhos’, como ouvi há dias na televisão”, salientou.

A estudante de Medicina adiantou que empunhou o cartaz, mesmo não sendo da sua autoria, como um alerta para “a vulnerabilidade dos idosos”.

“Existe muita gente que não está informada sobre o tema da eutanásia. No entanto, posso afirmar com convicção que não sou uma delas”, continuou, antes de… se enganar na explicação.

A eutanásia, “direito a uma morte sem dor nem sofrimento para doentes incuráveis, praticada com o seu consentimento, de forma digna e medicamente assistida” (dicionário Priberam), é, segundo Vera Sousa, a transformação de um médico no “veículo da precipitação da morte” dos pacientes.

“Isto não é medicina”, insistiu, antes de citar vários artigos do regulamento de deontologia médica – que, caso a eutanásia fosse aprovada, teria de ser sujeito a revisão.

A jovem do cartaz abordou depois outro argumento recorrente dos que rejeitam a eutanásia: a falta de cuidados paliativos em Portugal.

“Como explicar a pressa na criação de uma lei que permitirá que pessoas sejam assistidas para morrer, quando não damos às mesmas os cuidados a que elas têm direito?”

“Ao legitimar a eutanásia, estaremos a criar novas razões e novas pressões para que os doentes sem esperança de cura peçam para morrer”, insistiu.

A concluir o longo desabafo, Vera Sousa voltou a pedir, de forma simbólica, “por favor não matem os velhinhos”.

“Em defesa de todos os que estão vulneráveis, em sofrimento, dos que perderam a esperança ou se sentem um fardo para os seus, a sociedade deve afirmar a dignidade e a inviolabilidade da vida em todas as circunstâncias”.

Recorde-se que o bastonário da Ordem dos Médicos foi quem assumiu a escassez de debate sobre o tema de forma mais violenta, comparando o mediatismo da eutanásia com… a crise no Sporting.

Para além do cartaz “Por favor não matem os velhinhos”, o debate proporcionou um outro momento caricato, um aviso do CDS de Almada: “A eutanásia mata“.

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