A Associação Nacional de Farmácias recusa que as farmácias sejam o bode expiatório dos cortes na saúde e acusam a “política descontrolada de redução de preços” do Governo, “sem avaliar seriamente as consequências”, de estar na origem da crise no setor.
As farmácias estão em crise e, tal como os doentes, têm uma “dificuldade permanente de acesso aos medicamentos”. O diagnóstico foi hoje feito por Paulo Duarte, o presidente da Associação Nacional de Farmácias, que cita as 1629 farmácias com fornecimentos suspensos e as 351 que foram alvo de processos de insolvência e penhora para criticar a tutela.
“O que está a ser pedido às farmácias é que resolvam, na própria hora, falhas de abastecimento no mercado impossíveis de ultrapassar”, adiantou o dirigente, na abertura do 11.º congresso nacional das farmácias. Paulo Duarte citou mais números para reforçar o argumento: só em setembro, “as farmácias portuguesas não conseguiram adquirir dois milhões de embalagens de genéricos receitados pelos médicos ou pedidos pelos doentes”.
Mais de 3200 apresentações de medicamentos genéricos “não foram, sequer, fornecidas ao mercado”, continuou o responsável: “dos 20 medicamentos genéricos com maior dificuldade de aquisição, 11 tinham um dos cinco preços mais baixos”. Faltam ainda as contas do pouco aproveitamento dos funcionários que “deixaram de atender a população para passarem o dia ao telefone, à procura de medicamentos” que “não existem”.
A culpa, garantiu Paulo Duarte, é do Ministério de Saúde, que pratica “uma política descontrolada de redução de preços e de margens dos medicamentos, sem racionalidade e sem avaliar seriamente as consequências”. As farmácias portuguesas são as que trabalham “com a margem de comercialização mais baixa de toda a Europa”, realçou.
“Nós já pagamos seis vezes a taxa moderadora acordada com os credores internacionais”, salientou o presidente da ANF, reportando-se à contribuição de 50 milhões de euros para a redução da despesa pública com medicamentos prevista no memorando de entendimento: “e o Estado pagou a dele?”
O próprio dirigente deu a resposta: não. Metade dos 1200 milhões de euros de redução da despesa pública nos hospitais foram conseguidos “à custa da redução da despesa com medicamentos em ambulatório” e 300 milhões “à custa dos grossistas das farmácias”, precisou.
Em resposta aos médicos, que acusaram as farmácias de não ter vários genéricos para venderem um medicamento mais caro, Paulo Duarte sublinhou que “as farmácias portuguesas não têm lições a receber de ninguém” e contrapôs as “retificações absurdas de receituário”, que considerou serem “um formalismo incompreensível que ignora a realidade actual do circuito do medicamento”.