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Factos que todos desconhecem sobre os Campeonatos do Mundo de Futebol – Parte II (Décadas de 60 a 70)

chile62

Se é um leitor assíduo deste espaço está certamente ansioso para a crónica desta semana. E porquê? Porque todo o fã de futebol gosta de curiosidades e factos que desconhece sobre o seu clube, selecção ou competição favorita. E neste caso o destaque são as melhores selecções do mundo e a maior competição de todas: o Campeonato do Mundo de Futebol! Esta semana vão poder desfrutar de cinco edições, desde o Chile’62 até ao Argentina’78. Para a semana fica prometida a terceira, e última, parte desta trilogia dedicada ao futebol que se irá debruçar sobre os anos 80, 90 e os anos 2000 (mas só até 2002). Agora ide ler, ide!

Chile 1962

• Se hoje em dia os jogadores naturalizados dão polémica em todo o mundo, nesta época tal era considerado normal, sendo inclusivamente “fácil” mudar de nacionalidade. Senão vejamos. Depois de defender as cores da Hungria (o seu país natal) em 1954, Puskas alinhou no Chile’62 pela Espanha. Caso semelhante teve o uruguaio Santamaria, que depois de defender a pátria de origem no mundial helvético mudou-se para o Real Madrid e passou a deter a nacionalidade espanhola, a mesma cujas cores vestiu no torneio realizado no Chile. De brasileiro a italiano passou Altafini, ou melhor Mazzola, entretanto jogador do AC Milan e da Squadra Azzurra.

• Sempre ouvimos dizer que a justiça pode tardar, mas não falha. E um exemplo disso é o jugoslavo Jerkovic. Porquê? Porque apenas vinte e oito anos depois viu ser-lhe reconhecido o devido mérito. Apenas em 1990 é que a FIFA o reconheceu como o melhor marcador do Chile’62. Isto porque durante a prova um dos seus golos havia sido atribuído ao companheiro Galic: o primeiro na vitória por 5-0 frente à Colômbia, na derradeira jornada do Grupo 1. Ora esse tento transformava um grupo de jogadores (Garrincha, Vavá, Albert, Ivanov, Sanchez e claro o próprio Jerkovic) nos melhores marcadores, todos eles com quatro golos. Foram precisas quase três décadas mas o que interessa é que se fez justiça!

• O Uruguai contou com o apoio de pelo menos um chileno: um jovem de 17 anos de idade de seu nome Manuel Gonzalez. No dia em que escutava o Uruguai – Jugoslávia no seu pequeno rádio o infortúnio bateu à sua porta. Face à derrota da “sua” equipa por 3-1 o adolescente sentiu-se mal e acabou mesmo por falecer de ataque cardíaco. Os craques uruguaios foram informados do triste acontecimento e resolveram prestar uma sentida homenagem a tão improvável adepto fazendo questão de estar presentes no velório. Grande atitude por parte da comitiva uruguaia. É caso para dizer que um gesto vale mais do que mil palavras.

Inglaterra 1966

• Os dias que antecederam o arranque do Inglaterra’66 ficaram marcados pelo escândalo em torno do roubo da taça que Jules Rimet mandara fazer aquando o Uruguai’30. A preciosidade desapareceu do local onde estava exposta, no centro de Londres, e durante dias a polícia local tentou a todo o custo apanhar-lhe o rasto, mas sem sucesso. Até que sete dias após o roubo uma cadela (de seu nome Pickles) acabou por encontrar a taça! O troféu estava embrulhado em jornais debaixo, de uma árvore, numa zona sombria dos subúrbios londrinos. Quem lucrou com este achado foi o dono do animal, que arrecadou a recompensa de cinco mil libras previstas para o responsável pela resolução do mistério.

• O Campeonato do Mundo disputado em Inglaterra não contou com a presença de qualquer representante do continente africano. Desagradados com as directivas da FIFA, que os obrigavam a realizar um playoff de apuramento com os vencedores da zona asiática, os países africanos decidiram (com o apoio da CAF – Confederação Africana de Futebol) boicotar a participação no Mundial. A beneficiada acabou por ser a Coreia do Norte que assim teve direito a uma entrada directa na competição!

• Se a edição de 1954 ficou marcada pelo advento da televisão o Inglaterra’66 revelaria novamente importantes avanços técnicos em termos de cobertura televisiva. Foi este o ano em que as primeiras imagens a cores chegaram a todo o mundo! Outra das novidades passou também pelo aparecimento do vídeo, e das primeiras máquinas de replay, o que permitiu a transmissão de repetições das jogadas!

México 1970

• Mesmo tendo em conta a propensão de alguns brasileiros para baptizarem os filhos com nomes estranhos, o que se segue é um autêntico achado no que à originalidade diz respeito: Tospericargerja. Parece inventado, mas juro que é real! Este foi o nome que um índio da Amazónia resolveu dar ao seu descendente como tributo à canarinha, campeã do mundo em 1970. Ou seja, Tospericargerja é o resultado da junção das primeiras sílabas relativas aos nomes dos seis maiores craques brasileiros da Copa do México: Tostão, Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Gérson e Jairzinho.

• Este Campeonato do Mundo de Futebol ficou marcado por mais uma alteração nas regras: pela primeira vez a FIFA permitiu a realização de substituições no decorrer dos encontros (duas no máximo). E coube ao seleccionador da URSS, Gavril Katchalin, estrear a possibilidade no decorrer do intervalo do jogo de abertura (frente ao México), trocando Serebrjanikov por Pusach. Para a posterioridade fica também o nome do primeiro suplente a entrar e marcar um golo: o mexicano Juan Basaguren, nos 4-0 diante de El Salvador na fase de grupos da competição.

• Memorável foi também a forma como Franz Beckenbauer jogou parte do encontro da meia-final frente à Itália. Num jogo bastante disputado, a todos os níveis, o Kaiser acabou por deslocar um braço. Noutros tempos não seria permitida a substituição, contudo no México’70 a FIFA já tinha alterado as regras. Contudo o jogador recusou-se a abandonar o relvado, jogando o tempo restante (que incluiu o prolongamento) com o braço ao peito. A RFA perdeu, mas a atitude do jogador alemão permaneceu para sempre como o exemplo máximo de amor à camisola e à nação.

RFA – 1974

• Disputava-se o playoff intercontinental da fase de apuramento para a RFA’74, entre o Chile e a União Soviética, quando a 21 de Novembro de 1973 o Estádio Nacional de Santiago presenciou uma das mais insólitas partidas da história do futebol. Tinham passado pouco mais de dois meses desde que o golpe de Estado liderado por Augusto Pinochet derrubara o governo socialista democraticamente eleito, de Salvador Allende. A resposta dos soviéticos, em plena Guerra Fria, foi a recusa em viajar para o Chile e jogar naquele que apelidaram de “estádio da morte”. No entanto os sul-americanos apareceram para disputar a segunda mão, após um empate a zero em Moscovo, e o “jogo fantasma” aconteceu mesmo. Os chilenos deram o pontapé de saída e avançaram para a baliza contrária, deserta, marcando um golo, simbólico, que foi seguido do apito final. A encenação não era mais que o sinónimo da derrota da União Soviética por falta de comparência. Por sua vez a selecção chilena “carimbou o passaporte” para o Mundial da Alemanha, no ano seguinte.

• A primeiro expulsão dos Mundiais coube a um jogador chileno. Carlos Caszely viu o primeiro cartão vermelho de sempre dos Campeonatos do Mundo de futebol ao minuto 67’ do desafio inaugural da competição frente à anfitriã RFA. Mais tarde Caszely seria impedido de continuar a jogar no seu país por se ter revelado um opositor do regime ditatorial de Augusto Pinochet.

• O Uruguai resolveu realizar a preparação para o torneio alemão na Indonésia e na Austrália. Neste último país decidiram os dirigentes da comitiva celeste ficar dois dias além do inicialmente previsto. Em boa hora adiaram a partida para Munique uma vez que o avião onde iriam viajar antes da alteração de planos acabou por se despenhar, ceifando a vida a todos os 107 passageiros que nele seguiam.

• Não foi pacífica a passagem da selecção holandesa pelo RFA’74. Numa altura em que o futebol se começava já a transformar no “monstro” de marketing e publicidade que agora conhecemos Johan Cruyff, um dos mais carismáticos jogadores de então, travou uma pequena “guerra” com a Adidas. Pela boca do mítico jogador do Ajax, os futebolistas da Laranja Mecânica exigiram receber mais dinheiro em troca dos patrocínios nas suas camisolas. Contudo este pedido não foi sequer ouvido pela empresa alemã. Frustrados por não serem bem-sucedidos os jogadores resolveram arrancar uma das três tiras características da marca das suas camisolas, jogando dessa forma a final frente à RFA.

Argentina 1978

{loadposition inline}• O golo mil é sempre um momento marcante de qualquer competição, principalmente quando estamos a falar da “mãe” de todas as provas de futebol. Essa honra coube ao holandês Rob Rensenbrink, a 11 de Junho de 1978, ao converter uma das quatro grandes penalidades assinaladas no jogo frente à Escócia, que terminou com a vitória dos britânicos por 3-2.

• Na viagem entre Buenos Aires (onde tinha defrontado a anfitriã Argentina na segunda jornada) e Mar del Plata (onde encontrava a Hungria), em jogo a contar para o Grupo 1 da primeira fase, os equipamentos da França desapareceram. Assim sendo não restou outra alternativa senão recorrer aos uniformes de uma equipa amadora daquela localidade argentina. Resultado? Os bleus, precisamente assim denominados devido à cor das suas camisolas, defrontaram a Hungria de verde-e-branco. Mas não estranharam as novas vestes uma vez que esse foi precisamente o único jogo da prova que os gauleses venceram.

• A presença da Holanda na final frente à Argentina chegou a estar comprometida, e tudo por causa de uma…ligadura. O italiano Sérgio Gonella, árbitro do encontro, não autorizou o holandês René Van de Kerkhof a entrar em campo com a ligadura que tinha no pulso direito, recomendação que quase valeu a recusa dos representantes do “país das tulipas” em actuar. Só depois de intensas diligências junto dos jogadores “laranjas” é que foi possível convencê-los a jogar, sendo que, logo após o apito final (acreditando que foram prejudicados pelo juiz transalpino) abandonaram as quatro linhas sem sequer esperar pela coroação dos argentinos como Campeões do Mundo.

• Numa prova recheada de episódios caricatos ficou também para a história a substituição efectuada pelo seleccionador italiano Enzo Bearzot, no jogo que opôs a Itália à Argentina (ainda na primeira fase). E porquê? Porque foi a substituição mais rápida da história dos campeonatos do mundo, efectuada logo aos seis minutos de jogo, com a entrada de Antonello Cuccureddu para o lugar do lesionado Mauro Bellugi.

E assim termina a segunda de três partes sobre factos que todos desconhecem sobre os Campeonatos do Mundo de Futebol. Tal como na semana anterior antes de terminar é necessário fazer uma adenda: todos os factos presentes nesta crónica foram retirados do livro “A história dos Campeonatos do Mundo de Futebol” da autoria de Rémulo Jónatas, Pedro Jorge da Cunha, Sérgio Pires e José Nuno Pimentel sendo assim oficiais e não apenas fruto de uma mera pesquisa na internet.

Relembro que na próxima semana poderão ler os factos que todos desconhecem sobre os Campeonatos do Mundo de Futebol das décadas de 80, 90 e 2000 (mas só até 2002).

Boa semana.
Boas leituras.

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