Facebook a janela indiscreta

Passava pouco das duas da tarde quando a Carla começou a postar fotografias no facebook. Provavelmente estava a aproveitar a hora de almoço, para fazer alguns carregamentos móveis. No meio das várias fotografias que apareciam nas minhas notícias, saltou à vista uma fotografia da filha Susana. Como o tempo passa, lembro-me de pegar nela ao colo, e agora já está uma pequena mulher com 12 anos.

A fotografia da Susana não passou despercebida, não tardou e já somava uma quantidade de “Gostos” e alguns comentários das amigas e amigos da Carla. Entre eles a Carla respondia a uma amiga: “Está uma mulher, já vai sozinha da escola para casa.”

Passados poucos dias o meu amigo Marco, marido da Carla mostrava orgulhoso no facebook uma imagem de um Tablet de última geração, com o comentário: ” O meu menino chega hoje”.
Não tardei a comentar: “Chega hoje, ou vais buscar hoje?”.
Rapidamente o Marco me elucidou: “Não, chega hoje por transportadora”.
Já para provocar comentei: “Pena, então não o consegues receber hoje.”.
Quando o Marco me elucidou a mim e ao mundo: “Não eu tenho em casa quem receba.”
Peguei no telefone e liguei ao Marco:
“Então a tua filha de 12 anos está sozinha em casa, pronta a abrir a porta a um desconhecido?”
O silêncio do Marco disse tudo.

O Marco tem cerca de 470 amigos no facebook, a Carla outros tantos, amigos que conhecem, amigos só porque se cruzaram na vida, amigos porque frequentam o mesmo café, amigos porque jogam os mesmos jogos. Em meia dúzia de cliques, em meia dúzia de fotos, abriram uma porta a um mundo desconhecido.

Esta é uma situação real, em que apenas troquei os nomes dos intervenientes. E informei ambos que o assunto seria motivo de uma crónica. Eu também sou fã do facebook, mas não me canso de dizer às pessoas para terem cuidado. O cruzamento das informações da nossa vida, que se torna pública para uma pequena quantidade de gente, facilita muito a vida aos mal-intencionados.