Cultura

Exposição antológica de Fernando Lemos revela faceta de designer em 230 obras

A primeira exposição antológica de Fernando Lemos, como designer e artista gráfico, figura de “referência ímpar da nossa cultura”, com 230 peças, será inaugurada na quinta-feira, na Cordoaria Nacional, em Lisboa.

Embora conte já 65 anos de trabalho dedicado ao design gráfico, esta faceta criadora de Fernando Lemos, de 93 anos, “é ainda pouco conhecida do público, disse a diretora do Museu do Design e da Moda (MUDE), Bárbara Coutinho, numa visita à exposição, com a presença do artista.

Foi da iniciativa da diretora do MUDE lançar o desafio a Fernando Lemos, quando o visitou em São Paulo, no Brasil, onde está radicado desde os anos 1950.

Bárbara Coutinho descobriu “caixas e caixas” de material de design na casa do artista, que foi analisado e estudado pelo curador da exposição “Fernando Lemos Designer”, Chico Homem de Melo, e revela agora muitos inéditos.

“Os meus olhos encantaram-se com o que viram”, recordou a diretora sobre o material encontrado, e que foi usado para esta exposição “de uma obra singular que merece ser reconhecida”.

Bárbara Coutinho ficou comovida quando Fernando Lemos, antes de responder a perguntas de jornalistas, lhe ofereceu duas pinturas a preto e branco, criadas especialmente para agradecer à responsável, em agradecimento pelo projeto.

No primeiro andar do Torreão Poente, o visitante vai encontrar muitas das obras de design dispostas numa espécie de mesa expositiva branca, que serpenteia pelo espaço onde uma parte do chão foi coberto com um pó amarelo, para criar uma performance na descoberta da mostra.

A exposição é inaugurada na quinta-feira, às 19:00, e ficará patente ao público de sexta-feira até 06 de outubro, no âmbito da programação MUDE “Fora de Portas”.

No dia da inauguração, está prevista a antestreia do documentário de Vitor Rocha intitulado “Retratação”, sobre a vida e obra do pintor, artista gráfico e fotógrafo, do qual foram retirados vários excertos para serem exibidos em dois vídeos nesta exposição: “Lemos Designer” e “Lemos Livre”, com produção da Jumpcut.

Com entrada gratuita, a exposição tem design expositivo de P06 Atelier Nuno Gusmão, e estará patente no Torreão Poente.

Referência da cultura portuguesa e brasileira, Fernando Lemos continua a ser reconhecido, em Portugal, pela fotografia de inspiração surrealista, realizada entre 1949 e 1952, e no Brasil, pelas suas pinturas e desenhos abstratos.

A sua obra ficou marcada pelos retratos captados de várias figuras da cultura portuguesa, como Sophia de Mello Breyner, Jorge de Sena, Adolfo Casais Monteiro, Arpad Szenes, Maria Helena Vieira da Silva, Mário Cesariny e Jorge de Sena.

Representado nos principais museus de Arte Moderna e Contemporânea em Portugal e no Brasil, e em muitas coleções privadas, o seu trabalho em fotografia, pintura e desenho tem sido objeto de mostras individuais e integrado em inúmeras exposições coletivas.

Das suas mãos nasceram logótipos, livros (e uma editora de literatura infantil – editora Giroflé), muitas ilustrações, cartazes, azulejos, murais, tapeçarias, estampas para tecidos, pavilhões expositivos.

Fernando Lemos, nascido em Portugal em 1926 e radicado no Brasil, para onde viajou para se libertar da ditadura de Oliveira Salazar, foi também professor e presidente da primeira Associação Brasileira de Design Industrial.

Esta exposição é a revelação de 65 anos de pensamento, escrita, desenho e criatividade ao serviço da comunicação visual, sendo o resultado de um vasto trabalho de levantamento e estudo do curador convidado, Chico Homem de Melo, segundo a diretora.

De acordo com o curador, a exposição foi estruturada “em módulos, cada um deles abordando uma faceta da obra” de Lemos, e a ideia foi, no processo de montagem, criar “ilhas temáticas” que traduzissem a diversidade de sua produção.

Por ocasião desta exposição, é publicado o catálogo “Fernando Lemos Designer”, uma coedição com a Imprensa Nacional, da série Ph, que abre com uma fotografia inédita do crítico José-Augusto França, na Galeria das Quimeras, na Notre Dame, a quem o artista dedica o livro.

Em simultâneo, vão decorrer exposições associadas da obra do artista na Galeria Ratton e na Galeria 111, em Lisboa.

Na galeria Ratton, na rua da Academia das Ciências, junto à rua de O Século, a mostra intitulada “Fernando Lemos – Máscaras do Tempo – Azulejo e desenho”, ficará patente até 06 de setembro. Inclui, entre outras peças, um conjunto de padrões de azulejo de um projeto desenvolvido por Fernando Lemos, em 1972, na Fábrica São Caetano, em São Paulo, que nunca foi produzido.

Na Galeria 111, estará a exposição “Mais a mais ou menos”, com fotografia, pintura e desenho, reunindo obras realizadas desde a década de 1940 à atualidade. Esta exposição fica patente na galeria do Campo Grande, em Lisboa, a partir do próximo sábado, até 14 de setembro.

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