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Ex-PM turco apresenta novo partido e defende regresso à “democracia parlamentar”

O ex-primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu, antigo aliado do Presidente Recep Tayyip Erdogan, apresentou hoje o seu partido, de orientação conservadora, propondo um regresso à democracia parlamentar e o reforço dos direitos e liberdades.

O líder da nova formação, designada Partido do Futuro (Gelecek Partisi, em língua turca), emitiu este compromisso no decurso de uma cerimónia em Ancara e um dia após o anúncio formal de um novo projeto político que tem por objetivo enfrentar o islamita AKP, no poder desde 2002.

O recente sistema presidencial, que entrou em vigor em 2018 e forneceu vastos poderes a Erdogan, conduziu a uma “queda dos padrões democráticos”, disse Davutoglu no decurso da apresentação do programa do partido e dos membros fundadores.

“Defendemos um sistema parlamentar que esteja liberto de todo o género de tutela”, acentuou.

Davutoglu, 60 anos, primeiro-ministro de Erdogan de 2014 a 2016 após ter assumido as funções de chefe da diplomacia (2009-2014), revelou que o Partido do Futuro pretende “adotar uma compreensão global da política, com uma interação tecnológica moderna e contemporânea, respeitando a tradição no contexto de preservar os valores geracionais”.

“O nosso principal dever é assegurar um mecanismo de justiça que proteja os direitos e liberdades dos cidadãos e trabalhe contra o caos e violência que ameaça a ordem pública”, prosseguiu.

A formação de Davutoglu inclui um comité de fundadores formado por 155 pessoas, assinalaram hoje os ‘media’ turcos.

Para além do ex-chefe de governo, outros 18 antigos dirigentes do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), juntaram-se ao novo projeto político.

Davutoglu abandonou em setembro o AKP em divergência com a liderança de Erdogan, que acumula as funções de chefe de Estado e líder partidário.

No entanto, a cisão no partido de Erdogan não se limita à fundação da nova organização de Davutoglu, considerado o arquiteto da fracassada política turca face à Síria e que implicou entrada no país de 3,6 milhões de refugiados.

O ex-ministro da Economia e dos Negócios Estrangeiros, Ali Babacan, também abandonou o AKP e pretende fundar nas próximas semanas o seu partido político.

Os analistas locais consideram que as duas novas formações podem atrair votantes de centro-direita que procuram uma alternativa ao partido islamita-conservador, desgastado por quase três décadas no poder.

Recentes sondagens indiciam, que o partido de Davutoglu poderá garantir 3,4 por cento de apoio popular, enquanto Babacan poderá obter cerca de 8 por cento para a sua nova formação.

Os opositores de Erdogan esperam que o surgimento destas formações dissidentes contribua para o enfraquecimento do AKP, que registou derrotas eleitorais sem precedentes nas eleições municipais de março, e um contexto de crise económica e aumento do desemprego.

O AKP, fundado em 2001, foi derrotado na primavera passada em Ancara e Istambul, as duas primeiras cidades do país que o partido de Erdogan começou por controlar e que mantinha há 25 anos.

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