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Estudo: Crianças consomem medicamentos em excesso

medicoAs crianças portuguesas consomem medicamentos em excesso e sem a obrigatória prescrição médica, indica o estudo ‘Uso (ou abuso) de fármacos na idade pediátrica’. A pesquisa alerta para os efeitos secundários, muitas vezes mais perigosos do que os seus benefícios, que não são tidos em conta pelos pais e pelos prestadores de cuidados de saúde em Portugal.

Trata-se de uma pesquisa inédita que analisa o consumo de medicamentos médicos por parte das crianças em Portugal, da necessidade da prescrição e da relação entre os benefícios e riscos da toma desses fármacos, neste grupo etário.

Chama-se ‘Uso (ou abuso) de fármacos na idade pediátrica’ e é da autoria de profissionais de saúde que exercem nos hospitais Dona Estefânia, localizado em Lisboa, e Fernando Fonseca, situado na Amadora.

Segundo este estudo, o consumo é elevado, mas existem outros problemas associados à toma de medicamentos. Muitas vezes, a obrigatória prescrição médica não é respeitada e os efeitos secundários também não são tidos em conta, o que pode acarretar, para as crianças, mais prejuízos para a saúde do que benefícios.

A pesquisa envolveu a participação de 189 crianças com idade média que ronda os seis anos. Inquiridas sobre se tinham tomado algum medicamento nos três meses anteriores, 63,5 por cento afirmaram que sim (um ou mais fármacos).

Em declarações à agência Lusa, uma das responsáveis pelo trabalho, a pediatra Maria João Brito, revela que era desejável que o uso de medicamentos “fosse mais criterioso”, em virtude das “particularidades orgânicas” das crianças.

Os medicamentos mais utilizados (41 por cento) são antipiréticos, analgésicos e anti-inflamatórios (paracetamol e ibuprofeno, quase exclusivamente). Maria João Brito sustenta à Lusa que este estudo sugere “uma necessidade de aumentar a monitorização”, ainda que seja normal que, nas crianças, se verifiquem diversas patologias que levem à toma deste tipo de medicamentos.

A ausência de prescrição médica em alguns medicamentos de uso comum pode levar a que o seu consumo seja, no entanto, “banalizado”. Esta realidade acarreta “riscos acrescidos”, uma vez que, nos grupos etários mais baixos, “os efeitos secundários podem manifestar-se de forma mais frequente”.

Maria João Brito defende, à Lusa, que usar “fármacos não adequados” em certos grupos etários “deveria ser vigiada e regulamentada por entidades superiores”.

Por outro lado, a pediatria avisa que há um excesso de toma de antibióticos, já detetado em estudos anteriores. Em casos, sobretudo de infeções respiratórias, é feito “um diagnóstico incorreto”. Os médicos são diversas vezes “pressionados a prescrever antibióticos em doenças que estes fármacos não têm qualquer interferência”, sublinha.

A automedicações é outro problema associado ao consumo de medicamentos. No caso das crianças, não são elas que, por sua iniciativa, tomam o fármaco. Mas há 19,1 por cento de casos em que os medicamentos são dados pelos pais e quatro medicamentos que surgem por recomendação na farmácia.

Há pais que, segundo Maria João Brito, usaram nos filhos medicamentos sujeitos a receita médica, apesar de essa medicação não ter sido prescrita. E em algumas situações os efeitos secundários são bem piores do que os potenciais benefícios que o fármaco pode ter.

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