O investigador da NOVAFRICA Pedro Vicente criticou a abordagem exclusivamente militarista do Governo moçambicano para tentar controlar a onda de violência em Cabo Delgado, sublinhando que é preciso envolver as comunidades e as organizações muçulmanas.
“É preciso envolver as comunidades, é preciso chegar às comunidades com informação e as pessoas têm de ver isto como uma prioridade nacional. É preciso dizer com clareza: chegar às pessoas em Cabo Delgado é uma prioridade para Moçambique”, alertou o professor de Economia e diretor científico da NOVAFRICA, um centro de investigação para o desenvolvimento da prosperidade em África pertencente à Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE).
Pedro Vicente, também responsável pela unidade de desenvolvimento económico da NOVAFRICA destacou que o Governo está a “apostar fortemente” numa estratégia militarista e “puramente securitária” que pode não ter os resultados esperados.
“Há evidências de que chegar à população com informação, chegar aos muçulmanos com sensibilização tem um efeito claro [na redução dos incidentes violentos]. Obviamente que é preciso militares porque estão a matar pessoas, mas isto não pode ser a única coisa”, salientou, lamentando que tenha sido necessário um ano para aprovar uma ação de sensibilização religiosa contra a violência que os investigadores da NOVAFRICA promoveram em parceria com Conselho Islâmico de Moçambique (Cislamo).
“Há uma relação muito má, de intimidação, entre o Governo e as autoridades islâmicas que não têm nada a ver com a violência”, referiu Pedro Vicente, acrescentando que têm sido relatados casos de prisões arbitrárias de muçulmanos.
Denúncias idênticas têm sido feitas por organizações não-governamentais como a Human Rights Watch, que acusam as forças de segurança de “abusos graves no norte do país no quadro das operações” contra os alegados grupos islamitas.
“Se isto continua assim, o que vai acontecer é uma intensificação da violência. Isto precisa de ação urgente”, apelou o economista, frisando que “se é uma prioridade nacional meter lá os militares” também deve ser uma prioridade acionar todos os mecanismos para chegar às populações locais.
De acordo com os números recolhidos pela Lusa, a onda de violência em Cabo Delgado (província do norte de Moçambique junto à fronteira com a Tanzânia), que começou em outubro de 2017, já provocou a morte de cerca de 200 pessoas, entre residentes, supostos agressores e elementos das forças de segurança.
Para Pedro Vicente, o problema tem potencial para “criar ali uma zona de instabilidade para as próximas dezenas de anos” e transformar-se num problema religioso.
“O Governo vem dizer que não há nenhum problema religioso aqui. Se calhar não havia, mas pode vir a haver”, avisou, acrescentando que “a doença” se espalha facilmente junto de “jovens que não têm nada para fazer” numa das províncias mais pobres e com maior taxa de desemprego do país.
“É preciso uma ação de prevenção séria de conflitos, é preciso chegar a esses jovens e falar com eles, não é mandar polícia para cima deles”, recomendou o especialista.
Pedro Vicente defendeu que estas políticas públicas podem ser apoiadas em estudos já desenvolvidos em Cabo Delgado, entre os quais um, sobre prevenção da radicalização islâmica, e outro que incidiu numa campanha informativa sobre a gestão dos recursos naturais que foram descobertos na bacia do Rovuma e estão a ser explorados por um consórcio liderado pela norte-americana Anadarko.
A empresa foi alvo de dois ataques distintos em fevereiro de que resultaram a morte de um trabalhador e vários feridos.
A propósito das conclusões recolhidas pelos investigadores da NOVAFRICA com a campanha informativa, Pedro Vicente estimou que “há evidências” que apontam para uma redução dos incidentes violentos em comunidades onde a informação circulou.
“Conseguimos estabelecer uma relação causal entre a campanha e os eventos relacionados com violência que começam a acontecer a partir de outubro de 2017”, afirmou o académico, sugerindo que “quando têm alternativas ao conflito” as pessoas tornam-se “mais otimistas” e revelam menos adesão a grupos violentos.
Quanto ao trabalho desenvolvido com o Cislamo e outras organizações, que envolveu ações de sensibilização em mesquitas de Pemba, a capital da província de Cabo Delgado, Pedro Vicente considerou que se trata de uma iniciativa com interesse não só para Moçambique mas para “todo o mundo islâmico onde há conflito”.
Os investigadores e o Cislamo tentaram avaliar a propensão para a violência e comportamento antissocial de jovens muçulmanos, entre os 18 e os 30 anos, desmontando as crenças extremistas com base no Alcorão, através de sessões de consciencialização religiosa, com impactos positivos na alteração das atitudes violentas.
Euro Dreams Resultados Portugal: A mais recente chave do EuroDreams é revelada hoje. Conheça os…
Leonardo da Vinci recorda-se a 2 de maio, dia da morte do maior génio da…
O relatório Threat Landscape Report, da S21sec, garante que os atacantes adaptaram as suas técnicas…
Conheça os resultados do sorteio do Euromilhões. Veja os números do Euromilhões de 30 de…
Joana Bento Rodrigues - Ortopedista /Membro da Direção da SPOT A modalidade de Pilates foi…
A propósito do Dia do Trabalhador conheça os maiores erros de ética empresarial Quando os…