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“Está tudo tão podre que tresanda”. Duarte Gomes fala do “vírus que destrói a nação”

O futebol é apontado por muitos como um foco de corrupção, mas Duarte Gomes, antigo árbitro internacional, lembra que o problema não é só do desporto, mas sim da “caça grossa” que tem em mãos “mais poder do que devia, podia e merecia”.

Num artigo de opinião para o Expresso, o ex-árbitro deixou o futebol de lado e apontou o dedo ao estado do país, que aparenta ter “qualidade de vida” para quem não é de cá.

“Aos olhos de um mar de gente, Portugal é distinto e mágico. Portugal é belo e perfeito. Portugal é tudo. Só que não”, sustentou.

Quem está em Portugal conhece o outro lado do país, cuja “face mais feia” é a ideia cada vez mais generalizada de “corrupção crescente que parece reproduzir-se um pouco por todo o lado”.

É uma “onda de criminalidade” sem “um rosto definido”, baseada em “estratagemas maliciosos” que todos os dias deixam “sinais no ar”.

“O número galopante de ‘casos de polícia’ é assustador, tendo em conta um universo tão pequeno como o nosso. E não. Não me refiro às Rosas Grilo da vida, nem às claques desvairadas que partem tudo nos estádios. Não me refiro, sequer, às drogas e armas que se vão encontrando em bairros complicados ou às rixas pontuais que acontecem à porta de discotecas”, explicou.

Duarte Gomes aponta “à caça grossa”, aos “tubarões da nossa praça”. E quem são eles? “Banqueiros e empresários, políticos e magistrados e todos aqueles que têm, em mãos, mais poder do que deviam, podiam e mereciam”.

E, como esses “papões engravatados” são cada vez mais numerosos e ativos, “as pessoas estão cada vez mais tristes, revoltadas e descrentes”.

Por isso, “são poucos que acreditam na justiça da justiça”, que prende “o ladrão que roubou o feijão” e deixa livre “o corrupto que engoliu o bilião”.

“É o mundo invertido”, lamentou: “”A justiça atropelada, esmagada, desfeita”.

E deu exemplos, vários: dos “ex-governantes que furtaram milhões e que se passeiam à luz do dia” aos “‘Donos Disto Tudo’ que subtraíram as poupanças de uma vida de milhares de pessoas decentes”, das “fugas de informação estratégicas que partem dos únicos sítios onde nunca poderiam partir” aos “delitos graves cometidos por forças da autoridade, magistrados e agentes com responsabilidades”.

Sucedem-se os “cenários apocalípticos”, por norma evidenciando “promiscuidades familiares, facilitação de concursos e desvios de fundos públicos”.

“Há todo um emaranhado de conivências e delinquência, perpetuado por pessoas com cargos de topo e ética de soalho”, insistiu.

“Está tudo tão podre que tresanda. Portugal, o país maravilha que muitos veneram e que nós tantos amamos, está infetado por um vírus que não afeta o pulmão, mas destrói toda uma nação”, insistiu o ex-árbitro.

“É preciso muita coragem para mudar e a mudança acontece com a denúncia e investigação, com a exposição, o julgamento e a condenação. Portugal é mais, muito mais do que meia dúzia de trafulhas”, concluiu Duarte Gomes.

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