O Banco de Portugal só descobriu as “irregularidades” no Grupo Espírito Santo quando deixou “a área restrita de supervisão”, afirmou o governador, Carlos Costa. E só “foi ver as contas” e “os canais de contágio ao BES” porque os deputados exigiram explicações.
O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, explicou ao Parlamento a demora na deteção das “surpresas” no Grupo Espírito Santo (GES): não tem uma função direta de supervisão sobre o grupo, pelo que saiu da “área restrita de supervisão”.
“Nem o BdP, nem nenhum outro regulador, descobriria sem sair da sua área restrita de supervisão”, garantiu Carlos Costa, salientando que tal obrigou o regulador a “ver as contas de uma entidade não supervisionada”.
Só assim é que o BdP apurou que “uma parte da exposição” do BES ao GES “vai ter perdas”, embora sem afetar a solvabilidade do banco.
Apesar do receio dos mercados, o banco tem a “blindagem” necessária para enfrentar a situação: “o BES possui uma ‘almofada’ de capital suficiente para a exposição ao GES, mantendo o rácio de capital mínimo de oito por cento”.
Ao sair da “área restrita”, o supervisor conseguiu realizar uma “identificação concreta dos vários canais de contágio ao BES”, depois de “detetada uma situação grave no GES”.
“De um ano para o outro, o passivo financeiro da Espírito Santo Internacional tinha explodido”, lembrou Carlos Costa, argumentando que “a evolução registada na situação financeira da Espírito Santo Internacional poderia implicar danos para o BES”.
Evocando o “princípio da integridade e veracidade das contas”, o governador do BdP sublinhou que “a falsificação dos dados contabilísticos” é um crime, mas cabe aos auditores e revisores oficiais de contas garantirem que os dados apresentados por uma empresa são verdadeiros.
“Para mitigar o cenário de incumprimento da área não financeira do GES”, o regulador exigiu ao BES a apresentação de um plano de recuperação assente em três vetores: liquidez, capital e comunicação.