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Escritor Ignácio de Loyola Brandão toma posse este mês na Academia Brasileira de Letras

O escritor brasileiro Ignácio de Loyola Brandão tomará posse da cadeira número 11 da Academia Brasileira de Letras, no próximo dia 18 deste mês, numa cerimónia no palacete Petit Trianon, no Rio de Janeiro, informou hoje a instituição.

Ignácio de Loyola Brandão foi eleito no dia 14 de março de 2019 para ocupar a cadeira 11, das 40 que constituem a Academia Brasileira de Letras (ABL), na sucessão do Académico Helio Jaguaribe, que morreu em 09 de setembro do ano passado.

Seguindo o modelo da Academia Francesa, a ABL é constituída por 40 membros efetivos e perpétuos, apelidados de “imortais”. Além deste quadro composto por brasileiros, existem 20 membros correspondentes estrangeiros.

Quando um membro da ABL morre, a cadeira é declarada vaga numa sessão denominada “Saudade”, tendo os interessados em ocupar a vaga dois meses para se candidatarem.

“Eu nunca tinha pensado em me candidatar, achava que não era para mim. Mas é para mim, também. Quero abraçar o mundo com as mãos, com os pés. Não sei quanto tempo mais eu tenho, mas sinto uma vontade tão grande de chegar lá em cima, e esse era mais um passo, mais um degrau subido”, disse o autor brasileiro, em março, aquando da sua eleição para “imortal” da ABL, citado pleo jornal Estadão.

Loyola Brandão será recebido no seu novo posto pelo académico e escritor Antônio Torres.

“Ignácio de Loyola Brandão é um escritor puro-sangue, radical. Sua obra, consagrada no Brasil e no exterior, traz um misto de alta cultura e ironia, olhar incisivo e viés experimental. Os romances ‘Zero’ e ‘Não verás país nenhum’ já se tornaram património da nossa ficção. Ignácio renova e enriquece a ‘Casa de Machado'” afirmou o presidente da ABL, Marco Lucchesi, numa alusão ao escritor brasileiro de referência Machado de Assis.

Nascido em Araraquara, no interior do Estado de São Paulo, em 1936, Ignácio de Loyola Brandão estreou-se nas Letras em 1965, com o livro de contos “Depois do Sol”, mas foi com o romance “Zero” e o seu “realismo feroz”, como a crítica o descreveu, que se destacou. A obra foi proibida no Brasil, durante a ditadura (1964-1985), mas publicada em países como Alemanha, Espanha, EUA, Reino Unido.

Cronista no jornal Estado de S. Paulo, editor da revista Planeta na década de 1970, a sua obra literária soma cerca de quatro dezenas de títulos, nos mais diferentes géneros, entre romance, conto, crónica, teatro, biografia, livros de viagens e literatura infanto-juvenil.

Membro da Academia Brasileira de Letras recebeu, entre outros prémios, o da União Brasileira de Escritores e o da Associação Paulista de Críticos de Arte, o Prémio Fundação Biblioteca Nacional e o Prémio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da sua obra, além do Prémio Jabuti.

Loyola Brandão concedeu uma entrevista exclusiva à agência Lusa, durante a terceira edição da Festa Literária do Pelourinho (Flipelô), realizada em Salvador, entre 07 e 11 de agosto último, na qual fez muitas críticas ao político de extrema-direita e atual chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro.

Questionado sobre a possibilidade de haver censura na literatura brasileira, dada a polarização política e os ataques contra expressões de pensamentos divergentes, que tem acontecido no país, o autor disse acreditar que já existe uma espécie de “filtro cultural”, em órgãos públicos.

“Temo que a censura volte, porque ela já está vindo”, disse Loyola Brandão à agência Lusa. “Vivemos um momento muito delicado, muito triste. Eu, nos meus 83 anos, nunca vivi isto. Vivi na ditadura militar, mas isto [censura] era aberto”, declarou.

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