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Escassez de arroz preocupa são-tomenses e entra na campanha para as legislativas

A escassez de arroz, um alimento básico em São Tomé e Príncipe, está a indignar a população e o problema entrou na campanha eleitoral, quando falta uma semana para as legislativas.

Domingo de manhã na capital, São Tomé, dezenas de vendedores espalham os mais variados alimentos em bancas ou na rua junto ao mercado, alheios à chuva leve que não para de cair.

Mário vende mercearias, como esparguete, farinha de fubá, óleo ou grão, mas “agora não há arroz”.

No mercado, o preço do quilo de arroz ronda, normalmente, os “22 contos” (cerca de 90 cêntimos de euro). O mais barato custa 13 dobras (pouco mais de 50 cêntimos).

Agora, Mário vende cada quilo a 40-45 dobras (1,60-1,80 euros): “Vendi mais caro, porque não havia”, justificou.

“As pessoas reclamam. Mas como não há outra maneira, têm de comprar assim mesmo. Arroz é o comer de São Tomé”, relatou.

“Tenho 25 anos, eu nunca vi falha de arroz assim. Arroz comprido é um arroz que não falha, pode estar caro, mas nunca falha. Mas neste momento arroz comprido falhou, arroz curto falhou”, lamentou.

Este sábado, num comício em Trindade, a segunda maior cidade de São Tomé, o líder da Ação Democrática Independente (ADI) e candidato a um segundo mandato como chefe do Governo, Patrice Trovoada, prometeu aos militantes que, em novembro, chegará ao país o arroz encomendado pelo executivo ao Japão, enquanto garantiu que as autoridades vão “tomar medidas” em relação aos comerciantes que “estão a guardar arroz”.

Mário afirma que, “quando o arroz acaba, as pessoas falam mal do partido no poder”.

A uma semana das eleições legislativas – e também autárquicas e regional do Príncipe -, o vendedor acredita que “o povo está com Patrice Trovoada, mas a maneira como ele está a trabalhar, está a ser muito má”, razão pela qual admite que o líder da ADI “pode ganhar, mas não vai ter a maioria absoluta”.

Ao lado, Maria Unílsia, 38 anos, reclama: “A gente está muito mal, tia. A gente nunca comprou arroz a 50 contos [dois euros]. Não pode ser, a gente é pobre”.

Com uma faca na mão, limpa os búzios, que vai atirando para um alguidar, e continua o lamento: “Como é que a gente vai fazer? A gente tem de ter arroz, arroz, arroz”.

“E quando não há arroz, o que comem”?. Mãe de quatro crianças, Maria responde: “Comemos banana, fruta, matabala [tubérculo], mas fica muito caro”.

“Estamos numa fome, numa crise. Não há arroz, não há nada, está tudo com preço mais alto”, diz Carlos Conde, outro vendedor ambulante.

“As pessoas dizem que estamos a vender muito caro e que o Governo manda aumentar, mas não”, garante o jovem de 24 anos, acrescentando: “O Governo deveria abrir um supermercado de Estado para vender as coisas a um preço baixo, mas estão a deixar só os libaneses ganhar dinheiro”.

Aos 49 anos, Jacinto Fernandes já passou muita fome e, por isso, agora tem uma visão mais otimista.

“Ainda ontem [sábado] vieram duas carrinhas de arroz, mas está a estragar-se”, disse à Lusa, acrescentando: “O libanês guardou o arroz e quando se está a estragar, dá baixa de preço. Como o são-tomense não tem, as pessoas compram à mesma”.

Hoje, o país celebra um feriado nacional – Dia da Reforma Agrícola – e o Governo decretou para segunda-feira tolerância de ponto.

Os comerciantes garantem que, entretanto, está a chegar um navio com arroz e o alimento deve chegar aos mercados na terça-feira.

“Em todo o mês de setembro, é fatal. É um contrato do partido, quando entra no poder”, afirmou Jacinto, que vestia uma camisola e um chapéu da ADI.

“Patrice Trovoada é o futuro de São Tomé e Príncipe. Peço a Deus que ele volte a ganhar. Passei muito mal. Agora, com o partido ADI, eu estou de pé”, comentou.

Mais de 90 mil eleitores de São Tomé e Príncipe são chamados às urnas no próximo domingo para votar para a Assembleia Nacional, para as autarquias e, no Príncipe, para escolher o novo governo regional.

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