Ciência

Equipa do CNC-UC recebe 782 mil euros para estudo de doenças do neurodesenvolvimento e epilepsia

Um projeto coordenado pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), dedicado ao estudo de doenças do neurodesenvolvimento e epilepsia, com vista ao desenvolvimento de terapias mais eficazes, acaba de obter 782 mil euros de financiamento da Fundação “la Caixa” no âmbito do programa “Health Research 2020”.

O projeto, intitulado “MStar – Potassium channel dysfunction in models of neurodevelopmental disorders”, tem como principal objetivo explorar ligações entre doenças neuropsiquiátricas e epilepsia que permitam desenvolver melhores tratamentos para estas patologias, uma vez que se sabe que cerca de metade dos indivíduos afetados com défices intelectuais padecem de epilepsia, e doentes com esquizofrenia apresentam risco aumentado de desenvolver convulsões, comparados com o resto da população. Deste modo, pensa-se que perturbações do desenvolvimento do cérebro (como o défice intelectual e a esquizofrenia) e a epilepsia partilham mecanismos celulares que poderão estar na base da sua origem.

“As doenças neuropsiquiátricas são a segunda maior causa de anos de vida saudável perdidos por incapacidade, e são frequentemente agravadas pela ocorrência de epilepsia. No entanto, na maioria dos casos não se percebe de que forma as patologias estão ligadas”, explica Ana Luísa Carvalho, coordenadora do projeto e docente do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Nesse sentido, esclarece a também líder de grupo do CNC, “neste projeto, exploramos um mecanismo de regulação da atividade neuronal que julgamos estar comprometido em algumas doenças do neurodesenvolvimento, como o défice intelectual e a esquizofrenia, e simultaneamente estar envolvido no aumento de suscetibilidade à epilepsia.”

Uma das bases desta investigação assenta nos resultados de um estudo anterior realizado pela equipa de Ana Luísa Carvalho, focado na análise de funções neuronais, como a excitabilidade dos neurónios, que estão a cargo de proteínas conhecidas como canais M, uma família de canais de potássio. Os investigadores descobriram um novo mecanismo de regulação da excitabilidade neuronal, através da regulação dos canais M, que depende de um gene mutado em alguns doentes com perturbações de défice intelectual ou esquizofrenia. Assim, a verba agora atribuída pela Fundação “la Caixa” vai permitir procurar perceber como é que este mecanismo regula os canais M, e testar terapias dirigidas aos mecanismos de regulação disfuncionais que possam estar na base de crises epiléticas.

Neste estudo, com a duração de três anos, vão ser utilizados modelos animais de doença, mas também células humanas “diferenciadas em neurónios, que contêm mutações associadas a défice intelectual e esquizofrenia, e que aumentam a suscetibilidade a epilepsia”, afirma Ana Luísa Carvalho.

“O projeto, por um lado, explora um novo mecanismo de regulação dos canais de potássio do tipo M, reguladores da excitabilidade neuronal, e, por outro lado, visa compreender de que forma alterações neste mecanismo podem ligar a ocorrência de epilepsia a doenças do neurodesenvolvimento. A compreensão dessa ligação é essencial no desenvolvimento de terapias mais dirigidas”, explica.

Além de Ana Luísa Carvalho, a equipa inclui Paulo Pinheiro, Irina Moreira, Ângela Inácio, Gladys Caldeira e Marina Rodrigues, também investigadores do CNC-UC. O projeto insere-se num consórcio de investigação composto pelo CNC-UC e o Institute for Interdisciplinary Neuroscience (IINS), da Universidade de Bordéus.

O “Programa Health Research” é financiado pela Iniciativa Ibérica de Investigación y Innovación Biomedica promovida pela Fundação “la Caixa” e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). O programa é destinado a projetos de investigação e desenvolvimento em biomedicina e saúde e, de acordo com a Fundação “la Caixa”, pretende “identificar e promover iniciativas de excelência científica e de maior potencial e impacto na sociedade, tanto na investigação básica como na investigação clínica ou translacional.”

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