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Empordef: administrador Luís Miguel Novais deixa Estaleiros de Viana

ENVCA Empordef perdeu um dos administradores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. A saída foi motivada pelo bloqueio nas negociações das encomendas, nomeadamente com a Douro Azul, mas o presidente da empresa alega tratar-se apenas de “uma visão diferente” dos negócios.

Luís Miguel Novais apresentou a demissão. Cansado de não conseguir encomendas que salvem os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), o administrador da Empordef renunciou ao cargo e criticou a paralisia vivida nos estaleiros por falta de verbas para a compra da matéria-prima necessária à realização dos contratos. “Há decisões de gestão que têm de ser tomadas, independentemente da decisão final do Governo sobre a empresa. Esta inércia a que estamos a assistir desde novembro está a levar a um esgotamento dos estaleiros”, afirmou.

A saída do administrador surpreendeu o presidente da Empordef, tanto mais que a demissão foi primeiro apresentada publicamente. Vicente Ferreira estranhou que “a renúncia ao mandato de um membro do conselho de administração [CA] seja comunicada à comunicação social antes de ser feita formalmente ao CA da Empordef”, mas revelou que apenas espera pela carta para aceitar a demissão.

Caso a demissão se confirme, será um excesso do administrador, na ótica do presidente. As divergências reveladas serão apenas “uma visão diferente do senhor administrador Miguel Novais em relação à solução preconizada para os ENVC e para as participadas da Empordef em geral”, no entender de Vicente Ferreira.

A principal acusação do administrador demissionário é a falta de liquidez para comprar a matéria-prima necessária à realização dos trabalhos, o que terá levado os ENVC a perderem sucessivas encomendas. O presidente da Empordef, contudo, prefere atuar “em linha com o Ministério da Defesa”, defendendo que a viabilidade dos estaleiros não depende da “injeção pontual de mais capitais públicos, ou seja, dinheiro dos contribuintes, mas numa solução global e sustentável de viabilização da empresa e dos seus postos de trabalho”.

Os problemas têm-se prolongado desde o final de outubro, data em que Luís Miguel Novais ficou isolado na defesa da estratégia a seguir: “esta administração foi muito coesa até à elaboração de uma solução para os estaleiros, que foi apresentada a 31 de outubro ao Governo. Depois disso, os meus colegas alinharam numa perspetiva de não autonomia face a quem nos nomeou, enquanto eu entendo que devemos assumir o mandato e decidir, por isso fiquei em minoria”.

No final da semana, o administrador escreveu ao ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, que nada terá feito para segurar Novais no cargo. “Penso que já estamos fora de prazo para decidir e sobretudo para executar. O Governo tem os seus tempos, mas nós, gestores públicos, somos pagos para tomar decisões. Quando não as tomamos, mais vale não estar a gastar o salário ao Estado, por isso fui-me embora”, reforçou o administrador demissionário.

Na saída, Luís Miguel Novais apresentou dois exemplos em que a falta de liquidez para a compra de matéria-prima boicotou a concretização das encomendas. O primeiro ocorreu com a hipótese de construção de dois navios asfalteiros para a Venezuela, um negócio de 128 milhões de euros ainda pendente. O segundo, pior, levou à anulação do contrato-promessa com a Douro Azul. A empresa de turismo fluvial cancelou a encomenda de quatro navios-hotel, na ordem dos 50 milhões de euros, porque os barcos nunca seriam entregues antes da data contratualizada.

Os ENVC, propriedade da Empordef, são geridos por Jorge Camões, administrador não executivo da holding do Estado para as indústrias da Defesa. No CA sobra ainda António Mendonça, o administrador executivo.

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