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Ébola é uma guerra, dizem os MSF, e quem está a perder é a Humanidade

ebola O Ébola já deixou de ser uma epidemia na África ocidental e tornou-se numa verdadeira guerra e, segundo os Médicos Sem Fronteiras, quem está a perder é a Humanidade. Na Libéria, já há infetados a serem rejeitados devido à lotação esgotada. E o preço dos alimentos continua a subir…

Há uma guerra em curso entre um vírus, o do Ébola, e a Humanidade. Quem o diz são os Médicos Sem Fronteiras (MSF), que também não hesitam em apontar a doença como o vencedor do momento.

“Após seis meses com a pior epidemia de Ébola da história, o mundo está a perder a guerra. Os líderes não conseguiram tomar as medidas adequadas contra esta ameaça transnacional”, afirmou Joanne Liu, presidente dos MSF, durante uma intervenção na ONU, em Nova Iorque (EUA).

Apesar da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter considerado o Ébola “uma emergência de saúde pública mundial”, a grande maioria dos países tem virado a cara para não ver o que se passa na África ocidental, onde morreram 1552 pessoas e onde foram infetadas mais 3062, de acordo com as estatísticas mais recentes.

Para Joanne Liu, os Estados “limitaram-se a unir-se numa coligação global de inação”, deixando o vírus alastrar da Guiné-Conacri para Serra Leoa e Libéria, os três países mais atingidos pela epidemia.

Nesta guerra contra o vírus, a Humanidade precisa de responder com armas mais eficazes: para os MSF, são as camas (para hospitais de campanha), os laboratórios móveis e especialistas na contenção da epidemia.

Como exemplo, Stefan Liljegren, o coordenador do centro médico ElWA 3, na Monróvia, aponta o que se passa na capital da Libéria: “a cada dia temos que rejeitar doentes porque estamos lotados”.

De acordo com as previsões da OMS, o vírus pode infetar cerca de 20 mil pessoas num período entre seis a nove meses, caso nada seja feito para travar a epidemia. Basta salientar que, na Serra Leoa, “corpos altamente infeciosos estão a apodrecer nas ruas”.

Tom Frieden, diretor do Centro de Controlo de Doenças dos EUA, repetiu o apelo quando participava, ontem, numa conferência de imprensa: “é preciso agir agora, enquanto sabemos o que temos de fazer para travar o Ébola”.

“Deter esta doença não será fácil, mas sabemos como fazê-lo”, acrescentou o próprio Presidente dos EUA, Barack Obama: “podemos salvar vidas e os países podem trabalhar juntos para melhorar a saúde pública e para que este tipo de epidemia não aconteça novamente”.

Só que a guerra do Ébola não se trava apenas no campo clínico: a alimentação, mais precisamente a falta dela, é o outro cenário do conflito.

A restrição comercial aplicada aos países mais afetados, como medida para evitar a propagação do vírus, levou a uma escalada do preço dos alimentos, assim como à escassez dos mesmos junto das populações mais frágeis.

“O acesso à comida converteu-se numa preocupação urgente para muitas pessoas em três dos países afetados”, afirmou o representante regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para a Áfric, Bukar Tijani.

O problema agravou-se a si próprio: com receio que faltem os alimentos, as pessoas correram para comprar o que pudessem armazenar, inflacionando ainda mais os preços.

“A insegurança alimentar vai intensificar-se nas próximas semanas e meses”, acrescentou Tijani.

Na Libéria, o preço da mandioca subiu 150 por cento apenas nos primeiros dias de agosto.

O Programa Mundial de Alimentos lançou uma operação de emergência para recolher e distribuir 65 mil toneladas de alimentos.

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