Ramalho Eanes defende a iniciativa “ousada e correta” de Cavaco Silva desde que “em todas as mesas” haja “o pão necessário”. O compromisso de “salvação nacional” torna-se urgente para que a reforma do Estado seja feita “segundo o ritmo que a sociedade permite”, argumenta.
A decisão do Presidente da República, Cavaco Silva, de pressionar os partidos que assinaram o memorando da troika a chegarem a um compromisso de “salvação nacional” foi ontem comentada por todos os antecessores. O primeiro Presidente da terceira República, Ramalho Eanes, foi quem mais defendeu a “iniciativa ousada e correta” do atual inquilino de Belém.
“Estou convencido de que com esta iniciativa do Presidente, tão criticada, mas tão ousada e correta, vamos poder sair da situação de crise”, garantiu o general, em entrevista à RTP, embora com uma premissa. “Há uma coisa que não pode ser esquecida: em todas as mesas tem de haver o pão necessário, o mínimo necessário. O perigo de uma explosão social existe”, reforçou.
Uma “explosão social” que não é visível no breve prazo, pois “os portugueses têm-se portado muito bem”, segundo Ramalho Eanes: “em meu entender, demasiado bem”. Só que a reforma do Estado é “indispensável” e terá sempre custos sociais: “não é possível, com a economia como está e vai estar nos próximos tempos, ter um Estado social, pagar juros altíssimos, ter ainda empresas público-privadas e o Estado paralelo que foi agora denunciado. Temos de fazer a reforma segundo o nosso ritmo, que a nossa sociedade permite”.
Uma sociedade cada vez mais descrente dos políticos e dos partidos, o que tem de ser contrariado por uma maior participação cívica. O antigo Presidente defende que as pessoas, para criticarem, devem ter uma filiação partidária, pois só assim podem “modificar por dentro” a vida política: “é uma responsabilidade que cabe a todos”.
“Democracia destruída”
O compromisso exigido por Cavaco Silva é bem visto pelo anterior inquilino de Belém. “É preciso, quaisquer que sejam as formas encontradas, reforçar a capacidade de negociação internacional e assegurar ao mesmo tempo viver numa democracia que não fica populisticamente destruída e com coesão social”, alertou Jorge Sampaio, à margem de um encontro de solidariedade com estudantes sírios.
É necessário “encontrar uma forma de cooperação, seja ela qual for”, como é o caso do compromisso entre PSD, PS e CDS reclamado por Cavaco Silva. Sampaio quer ter “esperanças positivas de que isso seja possível”, mas prefere ficar em silêncio “em relação a uma chamada negociação que está em curso”.
“Demissão”
O único crítico assumido aos três pilares da “salvação nacional” é o Presidente cujo mandato coincidiu com Cavaco Silva como primeiro-ministro: Mário Soares. Segundo o histórico socialista, “a prioridade das prioridades consiste na demissão do Governo”, como comentou no artigo semanal para o Diário de Notícias.
Para Soares, um compromisso entre a coligação do atual Governo e o PS é “uma impossibilidade aparente”, pois António José Seguro terá o “senso” de não se aliar ao PSD e ao CDS.