“É impossível um cerco sanitário a Lisboa”, diz Filipe Froes
O pneumologista Filipe Froes considera que “não é exequível um cerco sanitário” a Lisboa, situação que representaria “um confinamento quase a nível nacional, não se justifica nem é possível”. Em entrevista à Renascença, Froes defende que não existe “capacidade de resistência económica para um regresso tão grande ao confinamento”.
O elevado número de novos infetados com o novo coronavírus na região de Lisboa e Vale do Tejo tem preocupado as autoridades.
O número de freguesias daquela região que suscitam maior apreensão subiu para 19, pelo que o estado de calamidade foi prolongado, com medidas adicionais de confinamento.
Filipe Froes, pneumologista, coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos e consultor da Direção-Geral de Saúde e da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, sustenta, no entanto, que não será possível avançar para um cerco sanitário em Lisboa, dada a dimensão geográfica da capital, bem como o elevado número de cidadãos que residem naquela região.
Em entrevista à Renascença, o especialista alega mesmo que é “impossível um cerco sanitário a Lisboa”, sustentando que está em causa “um terço da população” portuguesa.
“É impossível um cerco sanitário a Lisboa. É um terço da população de Portugal. Não é possível, não é exequível um cerco sanitário”, diz.
Para Filipe Froes, um cerco na capital representaria “voltar a ter um confinamento quase a nível nacional”, o que “não se justifica nem é possível”.
“Não se justifica porque isso é voltar tudo para trás, até março. Não há neste momento capacidade de resistência económica para um regresso tão grande ao confinamento”, explica.
A alternativa, segundo o reputado pneumologista, passa por adotar comportamentos pedagógicos, com “um grande envolvimento, uma grande explicação às pessoas”, de forma a que elas “percebam que aquilo que fazem não é só para elas, é para todos”.
Filipe Froes propõe ainda uma “melhor caracterização dos indicadores dos marcadores epidemiológicos locais, regionais e nacionais”, uma “aceleração do processo de suspeição e diagnóstico e notificação” e um “alargamento da capacidade de rastreio”.
Para o efeito, serão necessários recursos técnicos e humanos, capazes de dar uma resposta mais célere, em todas as áreas, não só na saúde, mas também no apoio social.
“Temos de ter com a identificação de respostas específicas, identificar medidas de apoio social para proteger os que são mais desfavorecidos, e que precisam de ter mobilidade, precisam de ir trabalhar, porque não têm condições de sobrevivência e nós temos por uma questão de inteligência e de altruísmo ajudá-los para que eles nos ajudem”, defende, à Renascença.
Nas últimas 24 horas, recorde-se, morreram em Portugal mais seis pessoas vítimas de covid-19, todas residentes na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Há agora 1540 vítimas mortais, de acordo com o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde, apresentado nesta terça-feira.
Relativamente a novos casos, há mais 345, num total de 39 737 infetados com o novo coronavírus.