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Doze anos após a adesão, romenos olham para a UE como a sua tábua de salvação

A Roménia, que assume agora a presidência da União Europeia (UE), assinala 12 anos desde a integração, com os romenos a verem Bruxelas como tábua de salvação, num país onde a corrupção ainda persiste e as obras tardam.

Conhecida pelas suas raízes religiosas, a Roménia vê, desde 2007, a UE como uma espécie de santo padroeiro, a quem os romenos pedem proteção e endereçam as suas preces para dias melhores.

“As pessoas estão a colocar as suas esperanças na UE e a ver a União como tábua de salvação”, observa à agência Lusa, em Bucareste, Ioana Samoila, uma jovem romena de 25 anos que na capital trabalha no apoio ao cliente de uma multinacional.

Foi no trabalho que Ioana conheceu quatro jovens portugueses – Alberto, Fábio, César e João –, que hoje se juntam numa mesa de café no centro da cidade com ela e com a amiga, também romena, Monica Handrabur, para comentar o que mudou desde a integração na UE.

Para todos é unânime que os romenos se sentem parte da UE, mas também é partilhada a ideia de que há muita coisa a mudar.

“A UE oferece-nos apoio, mas somos nós que temos de mudar”, nota Monica.

Para esta jovem de 25 anos, um dos maiores problemas no país continua a ser a corrupção que, ainda assim, “já foi pior”.

“Há corrupção em todo o lado: no Governo, nas entidades do Estado, na polícia e até na saúde pública”, aponta Iona, falando em “quase uma tradição na Roménia”.

Aludindo ao facto de, até 30 de junho, a presidência da UE ser assumida pela Roménia, Iona considera que “chega a ser irónico” que o Conselho da União tenha prioridades como o combate à corrupção e isso ainda aconteça no país.

“Toda a gente sabe que existe e toda a gente compactua, mas também há o outro lado da moeda, que é dos que precisam de o fazer já que, por exemplo, não têm acesso à saúde privada e precisam de subornar funcionários para ter consultas mais rapidamente”, precisa.

Tal como Monica, Iona reconhece “que há diferenças” para melhor nesta área, desde logo após o mecanismo de verificação criado por Bruxelas.

O problema é que esta realidade causa “uma má imagem” da Roménia junto outros dos Estados-membros, que agora começam a descobrir este país de leste, de acordo com as amigas.

Nos últimos anos, as jovens têm também notado melhorias em áreas como a economia e as infraestruturas, mas este ainda é “um processo lento”, apesar de se verem obras nas ruas da capital.

“Como temos acesso a fundos comunitários, há mais desenvolvimento no país, mais obras e mais projetos a serem criados, como ‘startups’ [empresas com potencial rápido de crescimento]”, justifica Iona.

Os quatro amigos portugueses que conversam com Iona e Monica têm histórias diferentes sobre a sua vinda para Bucareste.

Alberto da Cruz Chaves, 33 anos, veio por influência do irmão; César Barreira, 25 anos, veio de férias à Roménia e decidiu trabalhar no país por notar que o mercado das multinacionais estava em crescimento; Fábio Gomes, 28 anos, encontrou na Roménia a oportunidade que não tinha em Portugal; e João Costa, 25 anos, veio pela experiência de trabalhar fora.

Os quatro amigos trabalham em multinacionais na área tecnológica, empresas que procuram cada vezes mais portugueses para trabalharem para o mercado EMEA (Europa, Médio Oriente e África).

“Aqui não nos sentimos de fora, sentimo-nos completamente confortáveis, em casa”, assinala Alberto, natural de Beja e residente há quase cinco anos na Roménia.

Este jovem criou, inclusive, o blogue “Cartas de Bucareste” para “mostrar aos amigos e família as coisas boas” da cidade, contrariando o estereótipo negativo que sentia existir.

Para Fábio, nascido em Gouveia, “a Roménia sabe receber as pessoas e essa tolerância com os estrangeiros é um sinal de pertença à UE”.

Ainda assim, segundo o escalabitano César, continuam a persistir problemas nesta integração: “Uma das maiores bandeiras que o Governo romeno tem é que quer ser tratado de forma igual na UE, mas não faz o trabalho de casa em áreas como a corrupção”.

Reconhecendo que “a Roménia está a usar a UE para mudar”, João, natural da Covilhã, remata: “Se há altura para se afirmar, é agora, com a presidência da União”.

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