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“Do Lixo ao Luxo” com arte para sobreviver em Angola

A luta para sobreviver em Angola tem despertado os jovens angolanos para um misto de desespero e preocupações ambientais, com ‘Samuelarte’, aos 18 anos, a conseguir um sustento mensal “relativamente desafogado” a partir do lixo, sobretudo ferro, que recicla.

“Do Lixo ao Luxo” é o lema de Manuel Francisco Fabiano Samuel, cujo nome artístico, ‘Samuelarte’, começa a fazer “algum furor” e “escola” entre os jovens, sobretudo de uma pequena comunidade nos arredores de Luanda, que criou a associação “Lixo Zero Angola” e que tem servido de “sustento” para “várias” famílias.

Quem o diz é o franzino ‘Samuelarte’, que a agência Lusa encontrou a vender o seu artesanato reciclado a partir do ferro à porta do Centro de Convenções de Talatona, a sul da capital angolana, sempre muito solicitado por grande parte dos cerca de 1.500 delegados que participaram recentemente no Fórum Mundial do Turismo.

“Trabalho com reciclagem. Tenho ajudado algumas associações, com ‘workshops’ de reciclagem, como professor, ensinando crianças, adolescentes, até mesmo jovens”, disse à Lusa, numa linguagem desenvolta e até mesmo empresarial, lembrando que deixou a escola, em Luanda, há três anos para se dedicar à reciclagem.

“‘Do Lixo ao Luxo’ é o meu lema. A minha função é transformar o lixo em luxo, diminuir o lixo no mundo. Além dessa minha função também trabalho na ‘Lixo Zero Angola’. Temos atividades de limpeza das ruas, praias, etc. E é também com esse lixo que a utilizamos na reciclagem, fazendo peças de escultura, roupa, pasta, fios, colares, muita coisa”, acrescentou.

Se a luta pela sobrevivência, face à elevada taxa de desemprego em Angola – 28 por cento da população ativa e quase 50 por cento entre a camada mais jovem – ‘Samuelarte’ assegurou que, com a atividade, começou também a ganhar preocupações ambientais, numa cidade que tenta manter-se diariamente asseada, tarefa, porém, quase impossível.

“Sim, também há preocupações ambientais. É que há muito lixo que dá para ser utilizado, que dá para ser uma nova coisa. Há muito lixo, que faz muito mal às próprias pessoas. Se nós não queremos que as pessoas passem mal, podemos utilizar o lixo, fazendo coisas que podem ser utilizadas, que podem trazer-nos um fundo para nós e para outras pessoas, reciclando”, explicou.

Segundo ‘Samuelarte’, que se escusou a adiantar quanto consegue obter regularmente com este negócio, há já “muitos jovens” que estão também a apostar na reciclagem como meio de sustento, criando peças ou materiais para fazer roupas a partir do lixo, e que têm ajudado a sustentar as suas próprias famílias.

Segundo o jovem artesão, a atividade é rentável – cada peça não custa menos de 10.000 kwanzas (cerca de 27 euros), dependendo do trabalho que teve e do tamanho -, uma vez que o trabalho em ferro é “duro e difícil”. “Trabalho com ferro. Mas sei reciclar tudo”.

Sobre algumas das cerca de três dezenas de peças em ferro expostas, ‘Samuelarte’, cuja inspiração “vem do tudo e do nada”, destaca a “mais polémica”, que retrata a história de uma ‘zungueira’ (vendedora de rua) que foi assassinada por um polícia.

“É uma história muito triste que abalou o povo angolano. A senhora foi assinada pelo próprio policial, houve uma confusão imensa, a polícia foi agredida, com pedras, etc. Foi triste. Foi triste a história. Está tudo na internet, no ‘Youtube'”, descreveu.

Outra das peças em ferro tem o título “Lágrimas Coloridas”, para a qual tem uma explicação curiosa.

“É uma máscara que se chama ‘Lágrimas Coloridas’. Lágrimas coloridas são lágrimas de alegria e lágrimas incolores são lágrimas de tristeza, lágrimas sem cor. Às vezes, quando fico aí a dar estas gargalhadas, fico a lacrimejar e isso deu-me a ideia: vou fazer algo assim, idêntico. Uma lágrima sem cor não é lágrima de alegria. Criei esta peça”, concluiu.

‘Samuelarte’ deve ter ficado contente com a Feira do Turismo Mundial, que encerrou no sábado. É que das três dezenas de peças inicialmente expostas, restavam, no final, cerca de uma dúzia.

Lusa

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Lusa
Etiquetas: ÁfricaAngola

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