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Do cárcere para a literatura: Isaltino vai contar a “experiência” da prisão

isaltino moraisIsaltino Morais admite escrever as memórias do cárcere. O ex-autarca de Oeiras adianta que “por motivos pedagógicos” deve contar a “experiência” que viveu na prisão, onde fez “amigos”. Foram 426 dias de reclusão, “uma dimensão diferente de pormenores da vida”.

Não é o primeiro a passar por uma prisão e a contar o que se passou: afinal, até Camilo Castelo Branco o fez, saindo da cela a sua obra prima. O mais recente ex-preso a assumir uma vocação de escritor é Isaltino Morais.

“É uma experiência que eu acho que deve ser contada, até por motivos pedagógicos”, justificou o ex-presidente da Câmara de Oeiras, condenado a dois anos de prisão por fraude fiscal e branqueamento de capitais e que cumpriu (apenas) 426 dias de reclusão.

“Depois de estar privado da liberdade 14 meses, naturalmente que se tem uma dimensão diferente de pormenores da vida, de coisas que temos, que antes não aproveitávamos devidamente e agora aproveitamos de outra forma”, argumentou Isaltino, numa entrevista à Lusa realizada no Parque das Perdizes, em Oeiras.

Nesse ano e um mês de prisão, “a solidão e o silêncio” foram as situações mais difíceis com que o ex-autarca lidou, mas com a vantagem de lhe proporcionarem uma oportunidade para aspetos “positivos”.

“Os momentos em que se está sozinho numa cela, em que se olha para o exterior, tudo isso, são momentos de profunda reflexão e há que aproveitar esses momentos para usar o tempo de uma forma positiva, caminhando, fazendo exercício, lendo, escrevendo”, explicou.

No Estabelecimento Prisional da Carregueira, onde ao longo de quase 14 meses partilhou a cela com mais quatro reclusos, Isaltino fez vários amigos, uns mais conhecidos, como o ex-presidente do Benfica Vale e Azevedo, outros anónimos.

“Os presos, em princípio, são tratados todos de forma igual, mas não são todos iguais e o que é importante é a inteligência emocional de cada um, lidar com pessoas, procurar compreendê-las e eu estava sempre disponível para ouvir”, salientou: “se as pessoas me pediam conselhos ou ajuda para escrever qualquer coisa, eu estava sempre à disposição”.

“Foi fácil para mim essa integração. Ainda não estou bem em mim, mas considero que fiz amigos na prisão. Essa é que é a realidade”, garantiu.

Ao cumprir a pena, Isaltino manteve-se atento a outra “realidade”: a do país, que “não evoluiu nada”. “Mantém-se tudo na mesma. Julgo que um dos grandes problemas do nosso país é a ausência de projetos”, defendeu.

Projetos que o próprio ex-político ainda não tem. “Ainda não sei o que vou fazer”, admitiu.

“Agora quero descansar o meu espírito, adaptá-lo. Nem falo de política, nem de Justiça, neste momento só me interessa saborear as coisas boas que a liberdade nos proporciona e as pessoas podem continuar a ver-me, vou continuar a fazer os meus passeios e a cumprimentar as pessoas aqui em Oeiras”, acrescentou.

Até porque a passagem pela Carregueira deu um novo mote ao ex-autarca de Oeiras: “estar em liberdade é, juntamente com a saúde física, o bem mais precioso que existe”.

Isaltino Morais saiu em liberdade condicional na terça-feira, dia em que iria completar 14 meses de pena.

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