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Discurso de Joaquim Jorge na apresentação de Pedagogia Cívica

Eu encontrei a minha própria voz, o meu espaço. Comecei tarde, tem sido difícil mas consegui. No Clube tornou-se para mim uma forma de expressar o melhor de mim. Acho que esta actividade é útil, criativa e com sentido, que contribuí para melhorar a sociedade.

Faço isto com paixão e entusiasmo. Não me movo por lógica e razão. Parece que foi uma chamada que veio de dentro, para que eu fizesse isto. Descobri que tenho jeito para fazer debates e a forma como faço os debates é reflexo do que sou. Grande parte das vezes estou por altruísmo e generosidade.

Fazer o que se gosta vai-se descobrindo e desenvolvendo talentos inatos que estavam escondidos e permite-me melhorar o meu potencial. Gosto de fazer o Clube, sem pensar em dinheiro e sinto-me imensamente rico.

O objectivo do Clube não é ganhar dinheiro ou ter um cargo qualquer, mas ver o resultado do meu contributo para a sociedade. Sinto-me imensamente afortunado, feliz, pela aprendizagem de tudo que tenho feito e vivido, apesar de alguns obstáculos adversos e dolorosos.

O Clube produz um efeito de criar cidadãos, mais responsáveis e críticos, procura contribuir para uma sociedade melhor e um mundo melhor. Permite a liberdade, a capacidade de reflectir e imaginar a democracia e outras instituições.

No Clube faço voluntariado social. Procuro ser humilde quanto possível e consciente que quanto mais avanço mais tenho que estar atento e trabalhar.

O mais importante, pelo menos para mim, é que me divirto. Mas a motivação é fundamental. Percebi no Clube que dizer a verdade prejudica. Não ando à procura de nada, trabalho a fundo perdido.

Nada mais ajuda a triunfar que o próprio êxito, esse é o verdadeiro segredo do Clube, e não, ganha fama e deita-te na cama.

Tem que haver muita capacidade de trabalho, criatividade, algum mérito e ser expedito. Mas estou cansado de estar sempre a provar.

Os cidadãos estão fartos de gente que se aproveite do erário público e que lhes mintam. Não se pode meter a mão no que é de todos.

É preciso ter um guia para educar a sociedade. O pior delito é o que toca a dignidade. A corrupção não tem que ver com a instrução mas com a moralidade.

Uma pessoa pode ser inteligente e erudita e ser um delinquente económico. Outra pessoa menos preparada e menos inteligente mas com maiores valores é incapaz de roubar as esmolas da Igreja, quando ninguém está a ver.

A sociedade deve ter a segurança que a justiça funciona como parte do sistema. Há que educar a sociedade em que o que é público é sagrado. Que não se pode meter a mão no que é de todos. O problema que temos é que alguém pense que o dinheiro de todos não é de ninguém.

O delito ou crime é a principal violação do direito dos demais quando é contra as Finanças Públicas é contra o dinheiro de todos. Por outro lado, o discurso político desvaloriza as palavras

Porque será que tanta gente sente saciedade, tédio, repleção e aborrecimento pela política? Quiçá por um cansaço da forma como se pratica a política?

A sociedade necessita de uma renovação, em certo tempo, mudar os protagonistas. Quando uma sociedade se enquista e os protagonistas são sempre os mesmos, há um desejo de renovação. Isso deve-se a abusos do que é ter uma função pública no erário público.

Deve haver uma responsabilidade connosco própria e com os demais. Não podemos culpar só os políticos mas a sociedade em conjunto. Esse comportamento pouco responsável podemos encontrá-lo no nosso vizinho.

Julio Cortázar (escritor argentino), no seu conto “não se culpe ninguém” retrata bem que ninguém tem culpa. Há palavras que se esvaziaram: bondade; verdade; liberdade; consenso; compromisso; etc.

A liberdade significa o mesmo, o que repugna é o discurso que se constrói com ela. Uma coisa é o que significa liberdade, outra, é o discurso que se faz com a utilização por palavras de liberdade

O discurso que se faz hoje não tem a autenticidade ou a sinceridade com que se implementaram entre nós. Ao ler os jornais os políticos tem à volta de 60 por cento ou mais de espaço. Deveriam ter 10 por cento.

Há quem faça bem o seu trabalho. O bom médico, o bom professor, o bom engenheiro, o bom empresário, o bom operário e nunca é notícia. Deveríamos ter um jornalismo diferente e reflexivo. Falta reflexão e profundidade.

Uma democracia que não satisfaça as necessidades dos cidadãos está doente. O debate é para uma parte importante dos cidadãos conseguir que a democracia resulte habitável para toda a gente.

Infelizmente grande parte da população já percebeu que o principal elemento da democracia não é o votante (o cidadão) mas o credor da nossa dívida pública.

Dizer que a democracia está em crise não é novidade. Há muito que se diz que a democracia está doente. Todavia a democracia sempre demonstrou a sua força e capacidade de adaptação.

A democracia nunca foi um assunto exclusivo de eleições, leis e procedimentos, precisa de confiança e legitimação.

As democracias europeias basearam-se na liberdade de expressão, equilíbrio entre poderes, e de controlos institucionais. Para a maioria de nós, democracia era sinónimo de modernização, crescimento económico e realização pessoal. Porém actualmente estão em crise.

O controlo sobre as pessoas são infinitamente maiores, o equilibro de poderes é uma balela. Há a força dos poderes financeiros e os controlos institucionais falham. A desigualdade entre nações, gerações e grupos sociais cresce sem parar.

Problemas relacionados com a democracia, com a sua vitalidade, com a sua capacidade para satisfazer as necessidades dos cidadãos. Problemas relacionados com o medo, nesta democracia.

A democracia que queremos que seja não é esta actual, e muito menos como vai ser.  Se não nos pusermos de acordo para mudar esta democracia ela sucumbe.

Todavia este é um momento importante, numa altura em que existem 24 partidos políticos que vão concorrer a eleições legislativas em Setembro ou Outubro e provavelmente 13 candidatos às próximas eleições presidenciais.

Haver alguém, que em vez de concorrer a eleições e ir a votos, faz pedagogia e gostaria que a política fosse realizada de outra forma. Esta é a maneira que concebi de intervir politicamente, fazer pedagogia cívica. O Clube dos Pensadores tem como essência a pluralidade e foi concebido como um open mind, que funciona como complemento dos partidos políticos.

O sistema político precisa de válvulas de segurança, de mecanismos de controlo e auto-regulação. A legitimidade do voto tem um papel fundamental em democracia, mas não lhe dá o direito de influenciar e interferir noutras áreas.

A hora é da regeneração da democracia e a despolitização das instituições públicas a começar pela Justiça. Uma das vias possíveis para a democracia sobreviver e devolver alguma confiança aos cidadãos será aplicar controlos institucionais que impeçam a impunidade, a arbitrariedade, a corrupção, os enganos e a insegurança jurídica.

“Quem é idealista, empenhado em mudar o mundo, não entra num partido político, entra numa ONG”, disse Moisés Naim (escritor venezuelano). Eu não entrei numa ONG mas entrei no Clube dos Pensadores.

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