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Diretor de Infeciologia do S. João admite estudo sobre sequelas em recuperados

O diretor do Serviço de Infeciologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, admitiu hoje avançar com um estudo científico sobre as sequelas que a covid-19 deixou nos doentes recuperados, em colaboração os centros de saúde.

Em declarações à agência Lusa no âmbito do acompanhamento de doentes com covid-19 que tiveram alta hospitalar, António Sarmento, diretor do Serviço de Infeciologia do CHUSJ, onde se concentra o maior número de infetados pelo coronavírus em Portugal, demonstrou vontade em iniciar um estudo científico sobre as “cicatrizes” e “sequelas” que a doença do novo coronavírus deixou nos doentes que passaram naquela unidade.

“Teria interesse em termos investigacionais (…) quando as coisas acalmarem, nós chamar-mos ou convocar-mos alguns dos doentes, para fazermos um estudo científico e interesse da comunidade, e realmente com meios que o médico não tem no seu centro de saúde, já para avaliar a percentagem de sequelas que existiu e quais foram [essas sequelas)”, disse o infeciologista e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

O médico e investigador referiu, todavia, que não pode assegurar que todos os doentes vão ser seguidos no Hospital de São João sejam chamados, até porque a maioria que teve a doença está “bem”.

O estudo dos doentes de “forma sistemática” e com “metodologia científica” seria feito “em “colaboração com os médicos de família e com o hospital”, acrescentou o especialista.

As sequelas das doenças geralmente manifestam-se ao fim de semanas ou mesmo meses, explica António Sarmento.

No caso da covid-19, uma doença que sublinha é “nova” e desconhecida”, é “impossível, para já, no mundo alguém dizer, seja na América, seja cá, com que sequelas as pessoas vão ficar.

“Não sabemos”, assume António Sarmento, reconhecendo, todavia que é “provável que fiquem com as sequelas duma pneumonia”, sendo que as “mais prováveis” “serão sequelas pulmonares à semelhança de outras infeções pulmonares e que podem aparecer ou não doentes.

O diretor do Serviço de Infeciologia do São João do Porto ressalva ainda que há “sequelas de cuidados intensivos” que são “comuns a qualquer patologia que obrigue a internamento em cuidados intensivos”, mas que depois são “reversíveis”.

Uma pessoa que esteve parada, sedada e ligada a um ventilador pode ter “sequelas neuromusculares”, “sequelas pulmonares” e podem ser “sequelas psiquiátricas ou psicológicas”, e, por esses motivos pode sentir “atrofias musculares”, “cansaço brutal”, “falta de forças”, “stress pós traumático”, que tem a ver com uma sedação prolongada, descreveu.

Segundo António Sarmento, o CHUSJ não têm capacidade para seguir todos os doentes internados no Serviço de Infeciologia, no pós alta hospitalar.

“Nós estamos, neste momento, a ter talvez a melhor mortalidade da Europa, com resultados muito bons à custa do esforço brutal que se tem feito que é tratar aqueles casos que iriam morrer (…) e tentarmos o mais possível impedir a propagação na comunidade”.

“Numa altura de emergência, com dezenas ou centenas de doentes a aparecerem nos hospitais e com outros doentes em situação não covid que estão a ser tratados, não podem os hospitais assegurar tudo e mais alguma coisa. As tarefas têm se de dividir”, acrescentou, assumindo que no São João se assegura o tratamento na doença ativa, internando se for grave, e menos grave acompanhando no domicílio.

Numa segunda fase, o acompanhamento tem de ser feito pelo médico do doente.

“O Hospital São João faz o acompanhamento dos doentes enquanto eles estão positivos em casa. Telefonando de dois em dias, falando com a pessoa, mas depois quando os testes dão negativo e deixam de ter a infeção aguda os doentes passam a ser seguidos pelo médico assistente [médico de clínica geral, médico de família], porque os hospitais são “uma parte apenas do Sistema Nacional de Saúde”.

Em Portugal, morreram 1.114 pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas, e há 2.422 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A região Norte é a que regista o maior número de mortos (639), seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo (233), do Centro (214), Algarve (13), dos Açores (14) e do Alentejo que regista um caso, adianta o relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de quinta-feira, mantendo-se a Região Autónoma da Madeira sem registo de óbitos.

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