Um supermercado da Dinamarca dá um exemplo ao resto do mundo de como se combate o desperdício alimentar. Só vende produtos cujo prazo de validade expirou – carnes, lacticínios, pães e outros – e ficou sem stock logo no primeiro dia. Os lucros servem para alimentar quem tem fome.
Chama-se WeFood e não é só um supermercado: é uma associação solidária e uma campanha de sensibilização contra o desperdício alimentar.
Pode parecer estranho ter uma princesa (Maria) e a ministra do Ambiente e Alimentação (Eva Kjer Hansen) na inauguração de um ‘supermercado de bairro’, mas foi o que aconteceu quando o Wefood – Folkekirkens Nødhjælp abriu portas.
Nesta loja só há produtos que supostamente estariam no lixo: ou porque o prazo de validade já expirou, ou porque foram mal etiquetados ou porque a embalagem continha qualquer tipo de defeito.
Para além de aproveitar comida que ainda está em condições, combatendo o desperdício alimentar (uma das maiores pragas da sociedade moderna), o supermercado consegue fazer promoções incríveis, com descontos que chegam aos 50 por cento.
Ainda assim, não é um “supermercado social” para ajudar as pessoas com dificuldades financeiras, como salientou Per Bjerre, diretor da associação solidária Folkekirkens Nødhjælp (que gere o supermercado): “Temos clientes das várias camadas da sociedade e em comum eles têm o desejo de comprar produtos a preços substancialmente menores e combater o desperdício alimentar”.
A iniciativa está a ser um sucesso: “Vendemos praticamente todo o stock no primeiro dia de funcionamento e agora temos filas do lado de fora antes de abrirmos as portas”.
Com uma loja de 250 metros quadrados, o supermercado disponibiliza produtos como laticínios, carnes, frutas, vegetais, pães e alimentos congelados, com preços entre 30 a 50 por cento mais baixos face aos supermercados ‘tradicionais’.
Esta dinâmica só é possível graças aos voluntários da Folkekirkens Nødhjælp, que separam os alimentos cedidos por duas das maiores cadeias de distribuição da Dinamarca, a Føtex e a Danske Supermarked.
“Quando há frutas já em vias de apodrecer na caixa, fica mais barato para os supermercados deitar toda a caixa fora em vez de perder tempo a separar as frutas boas das más. Os voluntários do WeFood têm todo o prazer em fazer esse trabalho”, explicou Bjerre.
As condições inadequadas de armazenamento e a rigidez excessiva de certos prazos de validade são apontados como dois dos fatores principais para o desperdício alimentar, que na Dinamarca atinge cerca de 700 mil toneladas por ano, nas contas da WeFood.
Como todo o trabalho no supermercado é feito pelos voluntários, quase todo o dinheiro que entra é lucro, mas não fica para a associação: a Folkekirkens Nødhjælp usa-o para financiar atividades de luta contra a fome nos países mais pobres.
Segundo a ONU, pelo menos um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado. “É ridículo deitar comida fora e é prejudicial ao meio ambiente, já que implica o desperdício dos recursos necessários à produção, como água e energia”, lembrou a ministra Eva Kjer Hansen.