Nas Notícias

Dez anos do líder cessante de Macau marcados por mais qualidade de vida e dependência do jogo

Analistas consideram que os dez anos de mandato do chefe do Executivo cessante de Macau foram marcados pela melhoria da qualidade de vida, contudo, a frágil diversificação económica da capital mundial do jogo continua por resolver.

“Houve um esforço muito grande no sentido da melhoria da qualidade de vida da generalidade da população”, afirmou à Lusa o antigo deputado e membro do Conselho Executivo de Macau Leonel Alves.

O antigo deputado, que esteve na Assembleia Legislativa de Macau 33 anos e deixou o cargo em 2017, destacou que a “paz social, o progresso económico e a boa convivência entre as várias comunidades residentes em Macau” foram alcançadas durante os dez anos em que Fernando Chui Sai On ocupou o cargo de chefe do Executivo.

Também o professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto Politécnico de Macau José Sales Marques sublinhou a importância dos avanços conseguidos na última década.

“A paz social e o sentimento harmonioso da nossa sociedade é uma das principais características nestes últimos dez anos”, disse à Lusa Sales Marques.

Para Leonel Alves, a melhoria das condições de vida da população foi sustentada pelo progresso económico proveniente da indústria do jogo, o que “permitiu que a governação fosse muito boa”.

Faltou, contudo, diversificação económica. “A dinâmica económica restringiu-se muito na indústria do jogo”, argumentou o também advogado, considerando que o chefe do Executivo de Macau deveria ter apostado “numa outra vertente, na área financeira”, o que não aconteceu.

De acordo com dados da Direção dos Serviços de Finanças do território, os 106.781 milhões de patacas (12.015 milhões de euros) em impostos diretos sobre o jogo arrecadados em 2018 representaram 79,6 por cento da totalidade das receitas públicas de Macau.

No total, as receitas foram de 134.204 milhões de patacas (15.101 milhões de euros).

Para José Sales Marques, o setor privado de Macau “não tem nenhum incentivo nem nenhuma necessidade de diversificar”, dado que boa parte do setor vive dos casinos.

“O setor do jogo até há muito recentemente não tinha nenhuma intenção em ajudar na diversificação”, investir mais em setores da economia de Macau, “dar oportunidades a outros setores da economia de Macau”, afirmou.

“Como a perspetiva do fim dos contratos estava ainda longe houve uma altura em que não ligavam praticamente nada a isso. Ligavam muito pouco”, considerou.

A atribuição de novas licenças na capital mundial do jogo, será feita em 2022, através de concurso público, sendo que a grande maioria dos especialistas da área acreditam que as obrigações de diversificação por parte das operadoras devem constar no futuro caderno de encargos.

Com o aproximar do fim das licenças “tem havido uma maior participação das indústrias ligadas ao jogo”, considerou Sales Marques.

“A diversificação económica leva muito tempo a ser conseguida”, admitiu, e, tal como Leonel Alves, apontou o setor financeiro como o setor mais frágil que deveria ter tido mais atenção por parte de Chui Sai On.

“É preciso trabalhar mais para abrir a economia”, disse. No entanto, o ónus tem de ser posto no setor privado: “o Governo faz políticas, mas quem tem de responder a elas é o setor privado”.

Por outro lado, Leonel Alvez considerou que Macau tem, graças aos esforços feitos aos longo dos últimos dez anos, especialmente sustentados através da indústria do jogo, “bases suficientes para dar um passo em frente”.

“Macau neste momento tem condições para evoluir para um outro patamar”, disse, referindo-se ao processo de integração do território “nesta zona do sul da China”, o projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

O projeto de Pequim para a Grande Baía pretende criar uma metrópole mundial que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong, numa região com cerca de 70 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto (PIB) que ronda os 1,2 biliões de euros.

Fernando Chui Sai On vai passar a pasta no dia 20 de dezembro ao ex-presidente da Assembleia Legislativa de Macau Ho Iat Seng, de 62 anos.

Único candidato ao cargo de chefe do Executivo, após ter recebido o aval de Pequim, Ho Iat Seng foi eleito em agosto passado com 392 votos a favor, sete em branco e um nulo, por uma comissão eleitoral composta por 400 membros.

Em destaque

Subir