O analista que segue a economia de Angola na consultora Capital Economics disse hoje à Lusa que a desvalorização do kwanza vai fazer subir a inflação e aumentar o rácio da dívida, empurrando Angola para uma nova recessão em 2020.
“Antevemos que a economia se vá contrair pelo quinto ano consecutivo em 2020 devido à inflação elevada, aperto orçamental e uma contínua fraqueza do setor petrolífero, que fará com que o PIB caia 1,5 por cento no próximo ano”, disse John Ashbourne, em entrevista à Lusa, a partir de Londres, a sede da Capital Economics.
Entre as previsões destes analistas está a de que o rácio da dívida pública sobre o produto interno bruto (PIB) deverá ultrapassar os 100 por cento este ano, podendo aumentar ainda mais se a moeda nacional continuar a desvalorizar-se: “Com quase quatro quintos da dívida em moeda estrangeira, o rácio vai provavelmente ultrapassar os 100 por cento do PIB este ano”.
A contínua desvalorização do kwanza pode, aliás, fazer este rácio chegar a 110 por cento ou 115 por cento, alertam os analistas, considerando, no entanto, que a sua análise aponta, pelo contrário, para uma queda exagerada do kwanza nas últimas semanas, devendo valorizar-se no futuro próximo.
“Sobre o kwanza, na verdade achamos que a queda que ocorreu foi exagerada e que vai estabilizar nos 450 kwanzas por dólar, primeiro porque a conta corrente está em excedente, e depois porque a taxa de câmbio real sugere que o kwanza está atualmente subvalorizado, as quedas foram exageradas”, acrescentou a analista Virág Fórizs, do departamento africano.
Sobre a evolução do rácio da dívida pública face ao PIB, um dos principais indicadores sobre a capacidade de os países pagarem as suas dívidas e terem margem para apostar em investimentos reprodutivos na economia, Virág Fórizs salientou que o rácio é elevado, mas que a estrutura da dívida não suscita preocupações exageradas.
“O risco de incumprimento financeiro é bastante baixo, primeiro porque a dívida é principalmente de longo prazo, por exemplo o primeiro pagamento dos ‘Eurobonds’ acontece apenas em 2025, e depois porque a maioria da dívida é multilateral e bilateral, e consideramos que os credores estariam dispostos a prolongar as maturidades, o que reduz o risco de ‘default’ [incumprimento]”, acrescentou.
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