Défice com ou sem CGD é como a roupa no momento da balança, explica Ferreira Leite
Manuela Ferreira Leite considerou inevitável a contabilização da capitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) no défice de Portugal, comparando a situação à pessoa que usa a balança sem ter em conta o peso da roupa.
No comentário semanal para a TSF, a ex-ministra das Finanças explicou que o défice apontado por Bruxelas – três por cento – é o verdadeiro, depois da “confusão” lançada pelo Governo ao apresentar um défice de 0,9 por cento, o mais baixo de sempre na história democrática de Portugal.
Como as autoridades europeias incluíram a ajuda ao banco público (a operação de capitalização) nas contas do défice, a diferença dos valores apresentados permitiu demonstrar como o conceito “é teórico e elástico”, reforçou.
Para tornar o conceito mais compreensível, Manuela Ferreira Leite comparou o défice ao peso de uma pessoa.
“Uma pessoa que se vai pesar, para controlar a saúde, pesa um determinado número de quilos e passado uma semana pesa muito mais. Não pode daí concluir que melhorou imenso de saúde, porque provavelmente entre os dois pesos existe a roupa com que estava vestida, uma roupa leve ou muito pesada. Aquela diferença, resultado de uma análise de peso em cima da balança, não tem nenhum significado para a saúde”, argumentou.
Nesta metáfora, o número de 0,9 por cento do défice, anunciado inicialmente, resultou de um truque contabilístico, pois o cálculo não incluiu “a contribuição” do Estado para a CGD.
“A Europa considerou que essa despesa com a Caixa devia ser considerada e as nossas instituições consideraram que não”, reforçou.
“Disto não vem nenhum mal ao mundo, o nosso dia a dia não se mudou, não houve um anúncio de aumento de impostos, isso sim, seria grave. Foi uma despesa que não se vai repetir”, concluiu Manuela Ferreira Leite.