Défice orçamental dos EUA agrava nervosismo e desconfiança dos investidores
Em 2025, o défice orçamental dos Estados Unidos volta a estar em destaque, com o seu peso no PIB a representar cerca de 6,8%, um sinal claro de que a trajetória fiscal se torna cada vez mais insustentável.
A dívida pública já ultrapassa os 36 biliões de dólares, o que corresponde a cerca de 122% do PIB — um nível historicamente elevado que levou a Moody’s a cortar a notação de crédito dos EUA. Recentemente, a famosa agência de rating reviu em baixa a notação de crédito dos EUA, refletindo crescentes preocupações com o agravamento das contas públicas e a ausência de um plano eficaz de consolidação orçamental.
Ao mesmo tempo, o aumento das yields dos títulos do Tesouro evidencia o nervosismo dos investidores e a sua crescente desconfiança na capacidade de Washington para travar a escalada da dívida.
Este ambiente de incerteza coloca sob pressão os cortes fiscais propostos pela administração Trump, tornando ainda mais desafiadora a implementação de estímulos adicionais num cenário já marcado por restrições orçamentais e volatilidade nos mercados.
Fonte: Bloomberg
Ao mesmo tempo, as discussões sobre o teto máximo da dívida ganharam um novo destaque este ano. Os Estados Unidos atingiram o seu limite máximo de endividamento em janeiro, mas o Departamento do Tesouro tem recorrido a manobras extraordinárias para evitar o incumprimento do pagamento da dívida pública. Sem um aumento do limite máximo, o país poderá esgotar essas reservas até agosto deste ano – um impasse que pode ter consequências globais.
Fonte: Goldman Sachs
Perceção dos investidores através da reação dos mercados
Os investidores não têm permanecido indiferentes a estas dinâmicas, e os sinais de tensão nos mercados de dívida soberana são evidentes.
Os CDS (credit default swaps) sobre a dívida norte-americana registaram uma subida acentuada, refletindo o aumento da perceção de risco de incumprimento. Em paralelo, as yields dos títulos do Tesouro a mais longo prazo — nomeadamente a 10 e 30 anos — continuam a subir, reflexo da apreensão crescente dos investidores perante a ausência de uma resolução política clara para o teto da dívida
Por contraste, os mercados acionistas têm mostrado uma resiliência surpreendente, com os principais índices a manterem-se relativamente estáveis.
Esta aparente desconexão sugere que os investidores em equity, pelo menos por agora, veem estes riscos como estruturais e de longo prazo.
Atualmente, em maio de 2025, o preço do CDS (credit default swaps) é de 58,48 pontos, um dos níveis mais altos em mais de uma década, sinalizando o aumento das preocupações dos investidores com a estabilidade financeira dos EUA.
De que forma o aumento do teto máximo da dívida pode afetar os diversos segmentos de mercado e em termos económicos?
● Ações: O estímulo fiscal previsto nos EUA poderá beneficiar os setores financeiro e de defesa, especialmente empresas ligadas ao investimento militar.
● Economia: De acordo com estimativas do J.P. Morgan, a proposta tem potencial para compensar até dois terços do impacto estimado de uma redução de 1% no PIB, resultante do acordo comercial com a China confirmado no dia 11 de maio.
● Mercado de dívida: O projeto de lei implicaria um aumento adicional do défice orçamental, o que, por sua vez, intensifica a pressão sobre as taxas de juro dos títulos do Tesouro dos EUA. Antecipamos que a crescente preocupação com a trajetória fiscal do país poderá alterar o perfil de risco dos Treasuries de maturidade mais longa.