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Deco recebeu 29.350 pedidos de ajuda de famílias sobre-endividadas em 2018

A Deco recebeu 29.350 pedidos de ajuda de famílias em situação de sobre-endividamento, valor que supera os pedidos registados um ano antes e que chegou maioritariamente de pessoas entre os 40 e os 65 anos de idade.

O número de pedidos de ajuda ao Gabinete de Proteção Financeira (GPF) da Associação de Defesa do Consumidor – Deco tinha caído em 2017 para os 29.000, mas voltou a aumentar no ano passado, segundo revelam os dados do GPF, coordenado por Natália Nunes.

Mais de metade (51,2 por cento) destes pedidos foram feitos por parte de pessoas casadas ou em união de facto, mas os dados mostram que estão a aumentar os casos de viúvos, divorciados e solteiros que vêem a sua situação financeira entrar em rutura.

O desemprego continua a liderar a tabela das causas de sobre-endividamento, mas o seu peso, como afirmou à Lusa Natália Nunes, “tem vindo a diminuir ao longo dos tempos”.

Em contrapartida, “a causa da deterioração das condições laborais subiu bastante face a 2017, passando de 8 por cento para 19 por cento”, o que se deve a situações de precariedade e de baixos salários.

Em declarações à Lusa, a coordenadora do GPF assinalou que “a grande constatação é que as famílias em dificuldades não estão a diminuir e surgem novas dificuldades, novas causas de sobre-endividamento”.

Entre essas novas causas inclui-se o apoio a ascendentes (pais e avós), a descida de rendimento nas reformas antecipadas e o aumento de despesas com saúde, ou seja, causas que têm a ver com rendimentos baixos e que, por esse motivo, acabam por estar relacionadas com o mercado de trabalho, ainda que não de forma direta.

“O aumento dos encargos com a saúde representa já 7 por cento das situações que levam ao sobre-endividamento, o apoio a ascendentes – e estamos a falar de filhos que têm de contribuir para o pagamento dos lares -, são já 3 por cento das situações, e a reforma antecipada representa já 2 por cento das causas”, precisou Natália Nunes.

A par de um aumento de pedidos de apoio e do surgimento de novas causas, 2018 trouxe ainda outras mudanças face ao perfil observado nos anos anteriores.

As famílias sobre-endividadas têm um número médio de créditos mais reduzido do que antes da crise (em 2008), mas a taxa de esforço é agora mais elevada e agravou-se face a 2017.

De acordo com os dados da Deco, o número médio de créditos era sete em 2008, tendo baixado para cinco em 2017 e 2018.

Em contrapartida, a taxa de esforço (ou seja, a parcela do rendimento mensal que é desviada para pagar prestações de empréstimos e cartões de crédito) passou de 65 por cento em 2008, para 79,8 por cento em 2017 e para 80 por cento no ano passado.

O valor das prestações de créditos suportadas pelas famílias em situação de sobre-endividamento rondou os 924 euros em 2018, contra os 850 euros em 2017, sendo que nestes mesmos anos o rendimento médio caiu para os 1.150 euros em 2018, contra os 1.200 euros um ano antes.

“Olhando para o valor das prestações de crédito e o tipo de créditos, compreendemos que são os créditos pessoais e os cartões de crédito os grandes responsáveis pelo agravamento das taxas de esforço, nomeadamente os créditos contratados recentemente”, precisou aquela responsável.

Entre 2017 e 2018, o valor médio dos créditos pessoais aumentou de 9.527 euros para 16.111 euros, enquanto nos cartões de crédito, o valor médio usado subiu de 4.400 euros para 7.580 euros. Já o da habitação manteve-se estável, a rondar os 81.000 euros.

Cerca de 67 por cento dos consumidores que recorreram a este gabinete da Deco têm entre 40 e 65 anos de idade, o que reflete uma subida deste grupo etário por comparação com o que sucedeu em 2012, quando Portugal estava a cumprir o programa de assistência financeira. Nessa altura, as pessoas naquela faixa etária responderam por cerca de 55 por cento dos pedidos.

Estes pedidos de ajuda deram origem à abertura de 2.737 processos de renegociação de dívidas junto das entidades credoras, o que representa um acréscimo face aos 2.422 iniciados em 2017.

A subida tem por base, segundo referiu Natália Nunes, o aumento dos pedidos de ajuda e também o facto de haver menos situações de créditos em incumprimento – o que inviabiliza a intervenção e ajuda desta associação de defesa do consumidor.

Entre os que pedem ajuda, eram 45 por cento os que tinham já prestações em atraso. Em 2017, esta percentagem era mais elevada, chegando aos 55 por cento.

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