“Cyrano de Bergerac”, de Edmond Rostand, vai estar em cena no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, no próximo dia 24 de outubro, às 22h00.
Para a apresentação do espetáculo é essencial a participação de uma figuração especial constituída por pessoas que, sendo ou não atores, com mais, menos ou nenhuma experiência em palco, tenham em comum o amor ao teatro.
Para tal, será realizado um workshop dirigido à população local, entre os 18 e os 60 anos, dirigido por Bruno Bravo (encenador do espetáculo) e Sérgio Delgado (músico).
O trabalho a desenvolver com os participantes tem como objetivo claro a integração dos participantes no espetáculo e, por conseguinte, no universo de “Cyrano de Bergerac” e nos aspetos relacionados com possibilidades de interpretação (sobretudo coletiva) de voz e movimento. A participação é gratuita, devendo a inscrição ser efetuada até ao dia 10 de outubro no website do Centro Cultural Vila Flor.
“Cyrano de Bergerac” chega a Guimarães pelas mãos da companhia Primeiros Sintomas em coprodução com o Teatro Maria Matos, onde estreou no passado dia 4 de outubro, com encenação de Bruno Bravo.
A companhia explica que “este projeto nasce da vontade, antiga, de levar a cena um texto de uma obra ímpar no universo teatral, onde a poesia e o drama se misturam.”. “Cyrano de Bergerac” estreou pela primeira vez em Paris, em 1897. Tornou-se imediatamente um sucesso e chegou aos dias de hoje como um caso raro no universo clássico teatral, em que a personagem suplanta o autor.
Esta é uma peça invulgar. Trata-se de um poema épico e dramático, uma aparente contradição que só teve paralelo na tragédia.
No entanto, Cyrano aproxima-se mais do imaginário melodramático com traços marcadamente cómicos – derivados, sobretudo, dos longos trechos de Cyrano e da sua capacidade de usar a palavra de um modo tão letal como a sua espada.
A maravilhosa história de amor, a relação entre a poesia e o teatro, o drama e a comédia, indissociáveis, como Cyrano e o seu nariz, tornaram esta peça imediatamente popular.
Contudo, por baixo dessa camada maravilhosamente acessível a todos, encontramos um rigor, uma complexidade e uma riqueza na linguagem que justifica o que alguém resumiu depois da estreia em 1897:
“Por que o teatro e a poesia trocarão um sorriso infinito ao constatar que depois de tantas obras-primas pode surgir uma, ao mesmo tempo clássica e moderna, reunindo todas e ultrapassando-as a tal ponto que jamais o teatro havia ido tão longe na poesia nem a poesia tão perto do teatro?”
Não é possível conceber Cyrano sem o seu nariz. Tal como o Pinóquio de Carlo Collodi ou o Major Kovaliov de O Nariz de Gogol, o nariz representa e molda a personagem, ganhando uma dimensão que ultrapassa largamente o espetro fisionómico para ganhar significados mais amplos, de identidade e de condição humana.
A deformidade de Cyrano contrasta com o seu ímpeto intelectual de poeta e filósofo. A sua brutalidade com a sua extrema sensibilidade. A paixão pela beleza, pela liberdade, pela poesia e, finalmente por Roxanne (entretanto uma das mais belas figuras femininas da literatura dramática).
Para Cyrano o amor é o único e verdadeiro condutor do mundo e do Homem. Roxanne é o objeto último do seu desejo. No entanto, e este é o verdadeiro elemento trágico desta peça, esse amor jamais será consumido.
A deformidade sublinha a sua timidez e Cyrano declarar-se-á a Roxanne, ao longo de toda a peça, mas apenas por meio de Christian – nobre soldado e exemplo acabado de beleza, mas incapaz de escrever uma frase medianamente interessante.
Cyrano, num ato absoluto de altruísmo, apenas explicável na dimensão das paixões impossíveis, ajuda Christian a conquistar Roxanne, escrevendo sonetos que Christian dirá, como se fossem seus, a Roxanne.