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Cuidados paliativos. O testemunho invulgar de duas profissionais de saúde

Portugal discute a Eutanásia e existem argumentos a favor e contra. Entre os que estão pelo sim e os que estão pelo não existe algo que ninguém nega, que é o respeito pela individualidade da pessoa e a vontade de prestar todo o auxílio necessário. Todos desejam que as pessoas tenham um fim de vida digno, seja ditado pelas leis da natureza ou pelas leis dos homens.

Assim, entre aquilo que deve ser ou o que será, Portugal percorre ainda um caminho em que se debate a situação da Eutanásia, mas onde também entra na conversa e questão dos cuidados paliativos, algo há mais tempo implementado na rede de cuidados de saúde.

E é sobre cuidados paliativos e a experiência de uma médica e uma enfermeira que se prolongam as linhas seguintes, até porque não é todos os dias que se ouvem testemunhos de quem lida de perto com quem está em fim de linha e quem tem a tarefa de dar cuidados médicos e esperança a quem a doença diariamente a tira.

A enfermeira Isabel Semeão e a médica Catarina Pereira trabalham na Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital Santo André em Leiria e deixaram depoimentos tocantes a respeito de uma realidade conhecida por muitos, que por algum motivo sobre ela já tiveram contacto, não por todos, dir-se-á, felizmente.

“Temos pessoas com um coração e humanidade enorme. Sinto-me completamente realizada sem dúvida nenhuma”, explicou a médica Catarina Pereira, referindo que a área dos paliativos “não era muito falada há uns anos atrás”.

“Saía muitas vezes com a sensação de murro no estômago”

“Para qualquer médico entende-se como uma necessidade”, explicou Catarina Pereira, enquanto que Isabel Semeão destaca a nobreza do trabalho que se executa.

“Saía muitas vezes com a sensação de murro no estômago. Achava que não conseguia responder quando me questionavam ‘eu vou morrer'”, desabafou a enfermeira que, tal como a médica Catarina Pereira, falaram numa reportagem da SIC.

“Muitas vezes não conseguimos oferecer o tratamento absoluto da doença. Não conseguimos oferecer a cura”, lamenta Catarina Pereira.

“O doente em final de vida ensina-nos muito”

“Em cuidados paliativos pretendemos trazer dias bons”, contou a médica, enquanto Isabel Semeão diz que entende as doenças e o “sofrimento físico” mas, diz, que trabalha todos os dias com a “promessa” de que tenta “aliviar esse sofrimento”.

“É um privilégio acompanhar um doente em fase terminal. Estamos lá e podemos fazer a diferença de conforto, de cuidado na dignidade e de dignificar a pessoa que foi, que é e que continuará para sempre a ser”, reconheceu Catarina Pereira.

Por seu lado, Isabel Semeão diz que mais não são “pessoas que cuidam de pessoas”. “O lidar com alguém em fim de vida, frágil e vulnerável também nos transforma a nós. O doente em final de vida ensina-nos muito. E eu recuso-me a dizer que cuido de doentes em fim de vida. Eu cuido de doentes. Ponto”.

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