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Cruz Vermelha Portuguesa vai começar consultas, centro exclusivo para cólera já funciona

Sete tendas da CVP e dos Médicos do Mundo estão montadas junto do centro de saúde de Macurungo, um dos bairros mais populosos e com piores condições sanitárias da Beira, ao lado de outras sete tendas montadas pela UNICEF e que vão servir apenas para despistagem e tratamento da cólera.

Na sequência do ciclone Idai, que assolou a região no dia 14, e das cheias que se seguiram, há já casos de morte por cólera na cidade e 38 casos suspeitos até à tarde de hoje no complexo da UNICEF, mesmo ao lado dos profissionais portugueses.

Na tarde de hoje em Macurungo, enquanto os 20 portugueses de forma simbólica davam início ao trabalho efetivo, faziam-se buracos no chão para colocar pilares e uma vedação a isolar a zona da UNICEF, com o apoio da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), especialmente dedicada ao tratamento da cólera.

O centro está a ser preparado “antes que haja uma eclosão dramática de cólera”.

“Só ontem [quarta-feira] quatro casos suspeitos ficaram lá”, disse à Lusa Armindo Figueiredo, médico dos Médicos do Mundo, um veterano neste trabalho, com missões já em países como Timor-Leste, Haiti, Sri Lanka ou Paquistão.

Armindo Figueiredo faz parte de um pequeno grupo de quatro profissionais da organização, que se juntou a outros 16 da CVP e que estão desde segunda-feira na Beira, para prestar apoio médico no hospital de campanha hoje “inaugurado”. Com eles vieram 35 toneladas de medicamentos, alimentos, material logístico (como geradores) e material médico. Todo esse material deve ser doado a Moçambique no final da missão.

As duas entidades vão ainda preparar um bloco de partos, a pedido das autoridades moçambicanas, e a partir de sexta-feira contam começar a dar consultas, em duas tendas que vão conter seis postos de atendimento.

O hospital da Cruz Vermelha era para ter sido hoje visitado pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, até porque foi o primeiro a ser montado, mas a visita acabou por ser cancelada.

Lara Martins, vice-presidente da CVP e chefe da missão, também ela veterana mas em missões militares (na Somália por exemplo) em entrevista à Lusa, explicou que ao todo estão no hospital seis médicos e sete enfermeiros, além de outro pessoal, disse que a CVP entregou já 15 toneladas de alimentos ao Programa Alimentar Mundial, e explicou que a missão principal é reforçar o centro de saúde de Macurungo, em termos clínicos e materiais.

Já a funcionar no complexo da CVP/Médicos do Mundo está uma sala (tenda) que serve de centro de coordenação, e está preparada uma sala para doentes em cuidados intensivos e outra para serviço de observação, com equipamento de monitorização e macas. E outras duas tendas serão as duas salas de consulta, para já equipadas com material de desinfeção, cadeiras de rodas e outro material.

Segundo a responsável, o apoio dos portugueses para Moçambique através da Cruz Vermelha já chegou a 1,4 milhões de euros, o que dá à equipa em Macurungu “uma responsabilidade acrescida”.

Os portugueses não vão estar diretamente envolvidos na questão da cólera, embora possam fazer reencaminhamento de doentes. Armindo Figueiredo lembrou, em declarações à Lusa, que a cólera exige um grande esforço de desinfeção, e disse que também há muitos casos de malária, pela proliferação de mosquitos devido à água acumulada.

A zona da UNICEF/Médicos Sem Fronteiras, que vai ter acesso condicionado, começa com uma tenda que servirá de sala de triagem, já a funcionar e com doentes deitados em macas, que têm um buraco no centro, porque a cólera provoca diarreias violentas, podendo matar por desidratação em poucas horas, como explicou à Lusa o médico português Gonçalo Órfão, da CVP.

Nessa sala controla-se o doente e fazem-se os primeiros cuidados médicos; se for diagnosticada cólera os doentes vão para enfermarias, uma para homens e outra para mulheres. A UNICEF está também a construir uma zona de desinfeção, que é feita à base de cloro, e estão a ser criados sistemas de latrinas. Ninguém da UNICEF fez declarações, remetendo para uma conferência de imprensa futura.

Com ou sem cólera, Armindo Figueiredo prevê umas próximas semanas cheias de trabalho e Gonçalo Órfão diz que ainda é cedo para dizer se vai ser grave a situação. “Os dados que são partilhados não são suficientemente concretos. Existe sim, mas depende da capacidade de a controlar”.

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