Quando se trata de investigar os “meios sofisticados” da “criminalidade económica organizada e da corrupção”, a Polícia Judiciária “está na Idade da Pedra”. A denúncia é feita num abaixo-assinado subscrito por mais de 90 inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção.
A falência do BES e a operação Marquês, envolvendo o ex-primeiro-ministro José Sócrates, foram os mais recentes contributos para o debate sobre a corrupção em Portugal. Hoje de manhã, quem luta contra o crime queixa-se de não ter meios para o fazer.
Com a ministra da Justiça e o diretor nacional da Polícia Judiciária presentes na sede da Polícia Judiciária para uma conferência sobre o combate à corrupção, a Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC) vai entregar um abaixo-assinado rubricado por mais de 90 inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da PJ, a qual tem pouco mais do que 100 elementos.
No documento, os homens responsáveis por investigar os casos de corrupção e de crimes económicos “exigem meios para trabalhar”, reportando que, para além da falta de recursos humanos, os equipamentos informáticos são antigos e os automóveis nem sempre estão operacionais.
“A criminalidade económica organizada e a corrupção utilizam no século XXI meios sofisticados. Em comparação, a UNCC está na Idade da Pedra”, denuncia o texto do abaixo-assinado.
“Não tem equipamento adequado, antes recebendo o refugo que os outros rejeitam. Não tem viaturas que ofereçam níveis adequados de segurança e fiabilidade, tal é a média de idade e de quilometragem. Investigam-se processos de milhões com a logística de tostões. Não é pois tolerável que os investigadores corram efectivo risco de vida”, denunciam os inspetores.
As queixas não são novas: uma nota da ASFIC, citada no Público, referiu os exemplos da compra de um disco rígido durante as buscas ao BES e um carro que, quando seguia “em deslocação para uma busca em plena A8 e no decurso de uma ultrapassagem, desligou-se”.
O abaixo-assinado terá surgido como resposta espontânea dos investigadores à recente entrevista de Pedro do Carmo ao Diário de Notícias.
“No que respeita à UNCC, a unidade encontra-se dotada de meios técnicos e humanos que lhe têm permitido desenvolver com êxito importantes e complexas investigações no âmbito da corrupção, como aliás tem sido frequentemente noticiado”, afirmou, na quinta-feira, o diretor nacional adjunto da PJ.
O abaixo-assinado explica: “Em resposta às vozes que vêm repetidamente afirmando que os meios são suficientes, os investigadores da UNCC vêm claramente dizer que não é verdade. Não são suficientes. São dramaticamente escassos. A situação é insustentável”.
O Público refere que o Ministério da Justiça e a Procuradoria-Geral da República não responderam às questões solicitadas (na noite de ontem) e cita o próprio Pedro do Carmo, que admitiu ser importante o “reforço de meios em algumas áreas da PJ como a UNCC”.