Economia

Contribuintes voltarão a pagar para salvar bancos, avisa Abel Mateus

Abel Mateus tem poucas dúvidas de que os contribuintes vão ter de pagar, mais uma vez, para salvar bancos, a começar já pelo BES. “Evidentemente que não serão os depositantes”, reforçou.

O economista, que liderou a Autoridade da Concorrência e passou pela administração do Banco de Portugal, deu uma entrevista à Renascença para explicar a visão sobre a instabilidade do setor bancário.

Citando Vítor Bento, Abel Mateus lembrou que a resolução do Banco Espírito Santo terá um custo a rondar os 10 mil milhões de euros, sendo quase certo que os contribuintes serão também chamados a pagar.

“É possível”, admitiu: “E é melhor dizer que sim”.

“Evidentemente que não serão os depositantes, também não estou a ver a dívida subordinada a suportar isso, e dizer que são os outros bancos, quando estão numa situação de fragilidade, também é ilusório. Portanto, vão acabar por ser os contribuintes”, reforçou.

O cenário torna ainda altamente provável que continuem os despedimentos na banca, complementou.

“Falta uma visão mais agressiva para resolver o problema”, defendeu Abel Mateus.

Na opinião do economista, essa solução tem de passar pela via regulatória, “obrigando os bancos a reduzirem de uma forma mais drástica e a reconhecerem as dívidas”.

“Há dívidas que são irrecuperáveis e continuam nas contas dos bancos”, insistiu: “Toda a gente sabe que são irrecuperáveis e continuam lá como recuperável, o que não é admissível”.

O crédito malparado não é só um problema da banca, dado o risco de contaminação à economia portuguesa, continuou.

“Entre os países da crise, somos o segundo com níveis de malparado mais elevado. Temos registado uma redução muito lenta e ainda temos níveis incomportáveis”, sustentou.

Outro problema grave da economia nacional é a falta de concorrência, com Abel Mateus a citar mesmo o caso da EDP, que detém uma “posição elevada no mercado”.

“Os custos da eletricidade em Portugal são elevados”, admitiu o antigo líder da Autoridade da Concorrência, que neste órgão tentou travar a EDP… sem sucesso.

As medidas propostas pelo regulador não avançaram “porque a EDP tinha um poder de influência muito grande junto do Governo”, acusou Abel Mateus, na mesma entrevista à Renascença.

“Não me surpreende” que a elétrica e o presidente, António Mexia, estejam a ser investigados pela justiça, adiantou ainda o economista.

Em destaque

Subir