Os militares recusam ser “a jarrinha na mesa”, avisa Vasco Lourenço. Se não tiverem o “pleno direito” de “usar da palavra na cerimónia”, os capitães vão boicotar as comemorações dos 40 anos da queda do regime. “Não foi para isto que se fez o 25 de Abril”, diz Martins Guerreiro.
Os militares que em 1974 protagonizaram um golpe que levou à queda do regime podem boicotar as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril. Considerando que o atual Governo trata as Forças Armadas “abaixo de cão”, o então capitão Vasco Lourenço adiantou que os militares só estarão presentes se puderem denunciar a situação corrente.
“Os militares estão a ser tratados abaixo de cão, por este Governo, de forma absolutamente miserável. Estão a destruir as Forças Armadas”, avisou.
Num debate em Loulé, no qual participaram ainda Otelo Saraiva de Carvalho e Martins Guerreiro, Vasco Lourenço adiantou que os oficiais de 1974 poderão nem sequer apresentar-se na Assembleia da República, recusando o convite endereçado por Assunção Esteves.
“Só [há] uma situação em que talvez consiga convencer os meus camaradas a irmos à Assembleia da República: é se formos lá, de pleno direito, e usarmos da palavra na cerimónia”, explicou Vasco Lourenço, acrescentado que os militares não gostam “de ser a jarrinha na mesa ou a cereja em cima do bolo”.
“Não foi para isto que se fez o 25 de Abril”, insistiu Martins Guerreiro, enquanto Vasco Lourenço complementava: “os que estão no poder agem como se fossem os que foram derrotados no 25 de Abril”.
Outro 25 de Abril?
Ao expressarem o descontentamento, os ‘capitães de Abril’ foram confrontados pelo público presente: se os militares estão descontentes e “se o povo não aguenta”, por que motivo as Forças Armadas não avançam para “outro” 25 de Abril?
“Se sentisse que havia condições já estava a preparar outro 25 de Abril”, garantiu Vasco Lourenço, referindo-se às mudanças no quadro político desde 1974: “estamos, formalmente, em democracia”.
“Agora”, acrescentou, “não estraguem por completo a democracia e eles estão de facto a estragar por completo a democracia”.
Democracia direta
No debate, Otelo Saraiva de Carvalho lembrou ter defendido, na sequência da queda da ditadura, a instauração de uma democracia direta e popular, a qual estava condenada ao insucesso porque “os Estados Unidos não iriam permitir a revolução socialista”.
“Em 1974, nós podíamos ter criado aqui, instaurado um novo regime político”, insistiu.