Iguala está em pé de guerra. Após a descoberta de 28 corpos numa vala comum, alegadamente assassinados depois da polícia os entregar a um cartel, os estudantes prometem atacar o palácio do governador. O exército já está a substituir a polícia na região.
Ainda estão por apurar as verdadeiras circunstâncias do massacre de Iguala, no estado de Guerrero (México), onde foram descobertos 28 corpos carbonizados enterrados em valas comuns.
Os estudantes da região não têm dúvidas: nas valas estão alguns dos 47 colegas que desapareceram a 26 de setembro, horas depois de terem sido detidos pela polícia municipal.
Ao que tudo indica, terá sido a força de segurança a encaminhar os estudantes para o cartel dos Guerreiros Unidos, liderado por ‘El Chuky’, o qual terá dado a ordem para o assassinato em massa.
O Presidente do México, Enrique Peña Nieto, já tentou abrandar a escalada de violência, prometendo que não restará “o menor resquício de impunidade” perante estes crimes “revoltantes, dolorosos e inaceitáveis”.
Dois dos pistoleiros do cartel terão feito uma confissão, ontem divulgada pela Procuradoria do México, na qual assumiam que algumas das vítimas assassinadas faziam parte do grupo de 47 estudantes desaparecidos.
Nieto ordenou de imediato que a polícia local fosse suspensa provisoriamente, fazendo deslocar o exército para assegurar a segurança e a paz em Iguala.
A liderar as forças federais está Tomás Zerón, o diretor da Agência de Investigação Criminal que se tornou famoso por capturar ‘El Chapo’ Guzmán, um dos mais dominantes líderes de cartel.
“Não vamos deixar que nenhum grupo criminoso se imponha”, prometeu também o procurador-geral, Jesús Murillo Karam.
O problema é que uma grande fação de estudantes, os ‘normalistas’, não acreditam que o executivo mexicano consiga repor a normalidade em Iguala.
Vários porta-vozes têm anunciado a preparação de “ações radicais” quer contra os cartéis de droga, quer contra as forças da autoridade.
Segundo os estudantes, o problema começou quando a polícia local deteve um grupo que protestava contra o poder do narcotráfico durante um evento protagonizado pela esposa do autarca de Iguala.
A polícia chegou mesmo a disparar contra estudantes, antes de deter e levar 43 deles para o quartel-general.
Segundo os ‘normalistas’, os estudantes detidos foram levados, um a um, para um local isolado junto a Pueblo Viejo. Depois de assassinados a tiro, foram empilhados numa pira, regada posteriormente com gasóleo.
O massacre apenas provou o que já se sabia: em Iguala, um município com 130 mil habitantes, o cartel comprou a polícia, facto reconhecido pela própria Procuradoria, e demais autoridades.
Para agravar a tensão, o autarca, José Luis Abarca, e o chefe da polícia, Francisco Salgado Valladares, fugiram um dia depois de descobertas as valas comuns.
Todos os mortos já identificados de entre os corpos carbonizados pertenciam à Escola Normal Rural Isidro Burgos, de Ayotsipan, uma localidade situada a 123 quilómetros de Iguala (daí serem os ‘normalistas’).
Após várias assembleias, os estudantes prometem “empreender ações radicais”.
Um porta-voz do grupo, citado pelo El País, exemplifica o que pode acontecer: “Se for preciso, atacaremos o palácio do Governador”.