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Cientistas detetam superbactéria que os deixa alarmados

Uma grupo de cientistas chineses descobriu um gene que dá resistência às bactérias, tornando os antibióticos inúteis.  Detetado na China, o gene chamado ‘MCR-1’ é capaz de eliminar a proteção dos antibióticos, mesmo no caso de doenças letais.

“Se o MCR-1 se tornar global – o que é um caso de ‘quando’ e não ‘se’ – e o gene se juntar a outros genes resistentes a antibióticos, o que é inevitável, então provavelmente teremos atingido o início da era pós-antibióticos”, disse, em declarações à BBC, citadas pela Lusa.

 

“Os resultados que temos são extremamente preocupantes”, confessou o professor Liu Jian-Hua, da Universidade Agrícola de Cantão e principal autor do estudo, que foi publicado na revista ‘The Lancet Infectious Diseases’.

O “gene de resistência” foi encontrado no sul da China (em porcos e galinhas) e pode deitar por terra um século de proteção assegurada pelos antibióticos, mesmo nas doenças consideradas letais, que são transmitidas por bactérias.

O fenómeno de resistência foi também verificado nas polimixinas, antibióticos utilizados, em último recurso, para combater bactérias como Enterobacter, E.coli, lebselia pneumoniae (KPC), sobretudo em pessoas com fibrose cística, ou em reanimação, indica o estudo.

Durante exames de rotina feitos em porcos e galinhas, Liu e a equipa de investigadores encontraram o gene, que aumentou a resistência de uma bactéria, que por seu turno se disseminou.

Aqueles animais tinham bactérias resistentes à colistina, antibiótico muito comum na medicina veterinária.

Depois daquela descoberta foram realizadas observações a resultados de análises laboratoriais de doentes de dois hospitais das províncias de Guangdong e Zhejiang. E os especialistas manifestaram grande preocupação.

O gene, chamado ‘MCR-1’, aumenta a resistência até de bactérias combatidas com antibióticos mais fortes: aqueles que são usados para as superbactérias.

O MCR-1, por outro lado, mostrou-se capaz de se multiplicar e de propagar para outras bactérias, de forma muito simples, sobretudo naquelas que são responsáveis por infeções respiratórias.

O gene que torna as bactérias imunes aos antibiótico foi encontrado em bactérias comuns, mas mortais. Até agora. O MCR-1 confere à bactéria o poder da propagação, mesmo em pacientes tratados com antibióticos.

Este estudo foi publicado na Lancet Infectious Diseases na edição desta quinta-feira.

Esta não é a primeira vez que os cientistas encontram casos de resistência em bactérias. Mas essa resistência verificava-se apenas em mutações de organismos, o que reduzia significativamente os riscos de transmissão. Com este gene esses riscos não têm limitações.

“As polimixinas eram a última classe de antibióticos que impediam a propagação de célula a célula”, explica professor Liu Jian-Hua, citado pela agência Lusa.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde esta descoberta pode representar a destruição de um século de avanço na investigação antimicrobiana. “Podemos estar a regressar à era dos pré-antibióticos”, alerta a OMS.

Por seu turno, outros especialistas que tiveram acesso aos resultados deste estudo também se mostram preocupados.

“É um estudo preocupante, uma vez que as polimixinas são muitas vezes o antibiótico de último recurso para tratar infeções graves”, salientou Laura Piddock, docente na Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

Outra especialista, Judith Johnson, da Universidade da Florida, considerou “inevitável que a resistência às polimixinas seja acrescentada ao arsenal de bactérias resistentes a várias drogas e que se propague globalmente”

Ou seja, chega ao fim o tempo da ‘cura fácil’ de doenças potencialmente fatais. E recuando no tempo, a meados do pós-guerra, em 1918, podemos destacar a pandemia de gripe, com cerca de 100 milhões de mortos, antes da descoberta, por exemplo, da penicilina. A maioria dessas pessoas perderam a vida por culpa de bactérias da pneumonia.

Será que os antibióticos que tomamos hoje vão tornar-se inúteis? Timothy Walsh, professor da Universidade de Cardiff e coautor da estudo, considerou que sim.

“Se o MCR-1 se tornar global – o que é um caso de ‘quando’ e não ‘se’ – e o gene se juntar a outros genes resistentes a antibióticos, o que é inevitável, então provavelmente teremos atingido o início da era pós-antibióticos”, disse, em declarações à BBC, citadas pela Lusa.

Para já os investigadores vão aprofundar a questão e dar início a um amplo debate sobre a utilização da colistina na pecuária. Na União Europeia, a colistina é usada na medicina veterinária. Mas China, também é utilizada durante o crescimento dos animais.

Todos os anos, os produtores chineses utilizam cerca de 12 mil toneladas daquele antibiótico.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde esta descoberta pode representar a destruição de um século de avanço na investigação antimicrobiana. “Podemos estar a regressar à era dos pré-antibióticos”, alerta a OMS.

 

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