Cultura

Ciclo Desobedoc volta ao Porto com cinema para “pensar o mundo” e o fascismo

O ciclo de cinema Desobedoc volta ao Porto entre 25 e 28 de abril estreando em Portugal “O Silêncio dos Outros”, um documentário “sobre a memória e amnésia relativamente aos crimes do franquismo”, explicou à Lusa a organização.

“Numa Europa e num mundo onde vemos o autoritarismo a ressurgir, a memória é um instrumento para não permitir que o passado da ditadura e do fascismo se repita”, observou José Soeiro, deputado e dirigente nacional do Bloco de Esquerda, partido responsável pela iniciativa que este ano decorre no Círculo Católico Operário do Porto e que apenas em 2018 não se realizou nesta cidade.

O feminismo, o tempo do aborto clandestino em Portugal, histórias sobre um Porto escondido e uma viagem à libertação dos últimos presos políticos a serem libertados após o 25 de Abril de 1974 são alguns dos temas que também vão passar pela 5.ª edição do Desobedoc, para “mostrar que o cinema pode colocar o dedo na ferida” e ajudar “a pensar o mundo”.

Para dia 25, às 21:30, está marcada a estreia de “O Silêncio dos Outros”, documentário de Almudena Carracedo e Robert Bahar, vencedor do Prémio Goya 2019 de melhor longa-metragem documental, que mostra a luta das vítimas dos 40 anos da ditadura de Franco em Espanha.

No dia seguinte há nova estreia nacional, pelas 22:00, com “Gaza”, de Andrew McConnell e Garry Keane.

Antes disso, às 18:00, apresenta-se “Museu da Vergonha”, de Luís Monteiro e José Castro, que aborda a “luta pela transformação das antigas instalações da PIDE no Porto num espaço de memória da luta contra o fascismo”, descreve José Soeiro.

No dia 26, exibe-se ainda “Feminismo: Nem Um Passo Atrás”, sobre o GAMP – Grupo Autónomo de Mulheres do Porto, “provavelmente o primeiro coletivo do feminismo anticapitalista em Portugal”, “Work In Progress”, de Melanie Pereira, sobre a greve feminista de 08 de março, e “A Resposta das Mulheres”, de Agnes Vàrda, cineasta francesa recentemente falecida.

A isto soma-se, às 21:00, “O Aborto Não é Crime”, de 1976, que levou a sua autora, Maria Antónia Palla, a tribunal.

“Foi julgada já em democracia. É uma prova de que o cinema muda o mundo e é uma arma, que pode incomodar e colocar o dedo na ferida”, observa José Soeiro.

A 27 de abril, a estreia é de “J’Veux Du Soleil”, de Gilles Perret e François Ruffin, sobre o movimento dos coletes amarelos em França, ao passo que as curtas-metragens abordam “várias realidades de um Porto remetido para a invisibilidade”, descreve Soeiro.

Neste “Porto escondido” estão “Christian”, de Luís Nuno Baldaque, e “Rompendo Os Muros da Prisão”, de Luísa Pinto, que reúne “oito reclusos dos dois estabelecimentos prisionais de Santa Cruz do Bispo, ala feminina e masculina, com cinco atores profissionais e dois músicos”.

O bairro do Aleixo, no Porto, é abordado em “Russa”, nome do documentário de João Salaviza e Ricardo Alves Jr., mas também de uma ex-moradora do conjunto habitacional que ali regressa para visitar a irmã e os amigos.

O Desobedoc termina no dia 28, pelas 21:30, com o filme italiano “Um Dia Inesquecível”, de Ettore Scola, apresentado por Francisco Louçã, para voltar a Roma de 1938, quando a cidade celebra a visita de Hitler e Mussolini.

Todas as manhãs há espaço para o Desobedoquinho, dedicado “a crianças dos 9 aos 13 anos e para quem quiser”.

Com programação de Sérgio Marques e Tatiana Moutinho, o Desobedoc é uma iniciativa “feita de forma coletiva e cooperativa”, tendo começado em 2014 no então encerrado Cinema Trindade para “mostrar que havia público” para as salas culturais fechadas no centro do Porto, como explicou José Soeiro.

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