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China quer fazer de Macau um caso de sucesso

O primeiro governador de Macau em democracia defende que Pequim quer fazer da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) um caso de sucesso e considera que a crise em Hong Kong não é extrapolável para aquele território.

“Eu julgo que o regime chinês quer fazer de Macau um caso de sucesso”, declarou à agência Lusa o general Garcia Leandro, que governou Macau entre 1974 e 1979.

Questionado se os protestos que há seis meses ocorrem em Hong Kong se podem estender à RAEM (situada a 60 quilómetros a sudoeste), Garcia Leandro começou por enquadrar que se trata de duas realidades diferentes em termos históricos, de massa crítica e de população (Hong Kong tem sete milhões de habitantes e Macau cerca de 670 mil).

“A situação não é paralela, não se pode extrapolar de Hong Kong para Macau”, afirmou o general, presidente da Fundação Jorge Álvares, uma estrutura criada no quadro da transferência da administração que tem como objetivo promover o diálogo intercultural entre Lisboa e a RAEM.

Hong Kong é palco de manifestações desde junho, em protesto contra uma proposta legislativa que permitiria a extradição de suspeitos para a China continental.

O Governo de Hong Kong acabou por retirar a proposta, cedendo a uma das exigências dos manifestantes, mas a decisão não foi suficiente para travar os protestos antigovernamentais em prol de reformas democráticas e contra a alegada crescente interferência de Pequim no território.

Face aos protestos em Hong Kong, “Pequim tem tido uma grande contenção”, para evitar tomar uma posição de força, considerou Garcia Leandro.

O general, apesar de não querer entrar em especulações, disse que “dá a sensação” que “há ali uma mãozinha do exterior a empurrar”.

“De onde é que essa mãozinha do exterior vem não sei nem quero especular (…), mas é evidente que pode haver ali Taiwan, pode haver ali os Estados Unidos [país em guerra comercial com a China]”, comentou.

Quanto à RAEM, Garcia Leandro referiu que “as autoridades chinesas de Macau têm demonstrado uma grande capacidade de compreensão na relação com a história portuguesa e a herança portuguesa, as associações e instituições portuguesas”.

Após mais de 400 anos sob administração portuguesa, Macau passou a ser uma Região Administrativa Especial da China em 20 de dezembro de 1999 (comemoram-se esta semana os 20 anos da transferência), com um elevado grau de autonomia por um período de 50 anos.

Garcia Leandro fundamentou a sua opinião sobre a situação de Macau com o que viu em sucessivas visitas que fez à RAEM nos últimos anos (2011, 2018 e 2019).

“Visitei tudo e nunca vi aquelas associações, instituições tão bem tratadas como estão agora”, constatou.

“Interessa a Pequim que o caso de Macau seja um sucesso” e o novo chefe do Executivo, que toma posse esta semana, Ho Iat Seng, e os membros do seu Governo são “um sinal de grande esperança na manutenção desta linha de comportamento”, considerou.

O general, de 79 anos, destacou ainda a visita do Presidente da China e líder do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, “a Macau para as comemorações” dos 20 anos da RAEM.

A agência noticiosa oficial Xinhua confirmou a visita de Xi Jinping a Macau entre 18 e 20 de dezembro, para participar nas comemorações e na cerimónia de inauguração do quinto Governo da RAEM.

A transferência da administração de Macau ocorreu pouco mais de dois anos depois de a China ter recuperado a soberania sobre a antiga colónia britânica de Hong Kong (01 de julho de 1997).

Hong Kong e Macau foram as últimas parcelas do território da China sob administração estrangeira.

Em ambos os casos, Pequim aplicou o princípio “um país, dois sistemas”, que permitiu a Hong Kong e Macau manterem o sistema capitalista e o seu modo de vida, incluindo direitos e liberdades de que gozavam as respetivas populações.

As duas regiões têm autonomia em todas as áreas, exceto na diplomacia e na defesa.

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