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Cegos do Porto pedem espaço especial para aprenderem tarefas domésticas

O distrito do Porto regista 12 novos casos de cegos por mês que, alerta a ACAPO, desesperam com a falta de sonorização nos semáforos, multibancos e estações de metro e sonham com um apartamento especial para aprender tarefas domésticas.

Bebés que nascem cegos, utentes com glaucoma ou diabetes que leva à cegueira, acidentes rodoviários que provocam danos irrecuperáveis na visão ou o efeito secundário de um antibiótico. Estas são algumas das causas que leva a que o distrito do Porto tenha uma média de 12 novos casos por mês, revelou à Lusa a presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) do Porto, Paula Costa.

Para ajudar na reabilitação dos mais de 800 associados da ACAPO do Porto, e dos novos utentes que chegam mensalmente àquela associação, Paula Costa, 53 anos, praticamente cega desde os 39 anos, depois de ter descoberto aos 17 anos que sofria de glaucoma, lança um apelo urgente às câmaras municipais e juntas de freguesia do distrito do Porto, para que contribuam na construção de um apartamento modelo que permita ensinar a vários cegos, em simultâneo, técnicas específicas que lhes dê as ferramentas necessárias para uma maior autonomia.

“É uma das lutas que desde que estou na direção [há cinco anos], venho vindo a travar. Ainda não conseguimos (…). A ideia de termos esse apartamento tipo, seria fazer-se turmas” para que as pessoas que perderam a visão tenham oportunidade de aprender “novas técnicas” a partir do zero, voltando “a ser um bocadinho mais autónomas”, explicou Paula Costa.

Descascar uma batata sem cortar um dedo, confecionar arroz no fogão sem queimar o corpo, amornar um copo de leite no micro-ondas com o tempo correto ou medir 250 gramas de farinha numa balança para fazer um bolo são tarefas que se podem aprender em contexto de sala de aula, num apartamento modelo que venha a existir na ACAPO do Porto, ambiciona Paula Costa, recordando que tal espaço já existe em Viseu, Coimbra e Lisboa.

Tiago Vidinha, 29 anos, cego, natural de Santa Maria da Feira e a trabalhar no Porto há quase um ano no Núcleo de Apoio à Integração do Deficiente na Escola Superior de Educação, defende que os cegos têm todo o direito de ter uma reabilitação e o mínimo de boas condições para continuarem a lutar.

As dificuldades de mobilidade na cidade do Porto, onde Tiago Vidinha se move diariamente, são inúmeras, mas, para aquele utente da Metro do Porto, a inexistência de sonorização nos semáforos de várias passadeiras da cidade, como por exemplo no Campo 24 de Agosto, bem como a falta de informações sonoras no cais das estações de metro e na zona de compra e validação de bilhetes são as que destaca.

A falta de sonorização de inúmeras caixas de multibanco é outras das críticas graves que chegam à ACAPO e os cegos nem querem ouvir falar de caixas multibanco com écrans digitais, porque, nesses casos, fazer um pagamento ou levantar dinheiro pode ter um final infeliz.

Segundo Tiago Vidinha, o carregamento dos passes para circular no metro e a validação das viagens não está acessível para os cegos e a informação sonorizada da chegada do metro ao cais da estação é desligada à noite, depois da hora de jantar. Factos que lamenta

“As estações de metro deixam de ‘falar’ à noite, porque incomoda as pessoas, mas nós temos de viajar na mesma”, alerta Tiago Vidinha, assumindo que há situações em que os cegos não conseguem “desenrascar-se sozinhos”.

O “ideal” era a estação [de metro] ter um sistema que ligasse os utentes cegos até à saída ou então que introduzissem um botão junto à escada rolante para permitir pedir ajuda quando se chega ao cais.

“Eu já fiquei sozinho numa estação. Não tinha dinheiro para carregar o passe. Foi obrigado a confiar 40 euros na mão de uma pessoa desconhecida”, testemunha Tiago Vidinha.

As queixas sobre as caixas multibanco da cidade ou das passadeiras para atravessar as ruas do Porto que chegam à ACAPO apontam quase todas para a falta de sonorização, havendo mesmo casos na Foz ou no centro do Porto em que, dizem, desligam o sinal sonoro do semáforo.

“Precisamos de mais apoios para ajudar a reabilitar as pessoas cegas ou com baixa visibilidade no Porto”, apela hoje Paula Costa, no Dia Mundial da Bengala Branca, um símbolo em todo o mundo para assinalar a independência e mobilidade das pessoas cegas ou com pouca visão.

A delegação do Porto da ACAPO assinala no próximo sábado o Dia Mundial da Bengala Branca, com o desafio de colocar vendas às pessoas que queriam sentir o que um cego sente ao andar na cidade do Porto.

Lusa

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