Há um inqualificável sentimento de raiva, cólera e desilusão com a política. Tudo isto se manifesta de variadíssimas formas de norte a sul de Portugal. Uns não vão votar, outros anulam o voto, outros protestam como tem acontecido nas nossas ruas reivindicando medidas menos gravosas, outros fazem pedagogia cívica e lançam alertas.
Tem-se gritado contra os políticos, banqueiros, corruptos, falta de justiça, contra a Europa, contra o euro, etc. A rua junta o desespero de pequenos empresários, agricultores, camionistas, professores, trabalhadores, desempregados, estudantes, simples cidadãos, claques de futebol e radicais de direita e esquerda.
Este movimento de rua é um movimento social espontâneo, apolítico, cujo objectivo é defender os cidadãos desta crise feroz. É um protesto contra a perda da nossa dignidade, lentamente estão-nos a tirar tudo: salários; saúde; educação; casas; futuro; sonhar.
No fundo os portugueses são escravos da troika e do governo.
Esta raiva não tem efeitos práticos devido à lentidão exasperante que as instituições públicas sob o mote dos partidos políticos vão adiando continuamente.
O princípio da universalidade e igualdade consagrado na Constituição, assim como a participação política dos cidadãos, não é aplicado. A participação directa e activa de homens e mulheres na vida política constitui condição e instrumento fundamental de consolidação do sistema democrático, promover a igualdade no exercício dos direitos cívicos e políticos e a não discriminação no acesso a cargos políticos. Por outro lado, todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos públicos do país, directamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos.
Todos nós sabemos que é letra morta e um dos cavalos de batalha de quem contesta este sistema político. Há um sentimento comum e sintonia do nosso eleitorado farto das mesmas pessoas que exige a regeneração do sistema político e eleitoral.
A reforma do sistema eleitoral vigente com a possibilidade de acesso ao poder de independentes em igualdade de circunstâncias com militantes de partidos nas autarquias, deputados e governo.
Isso não vê a luz do dia. Há um cansaço com a alternância PS, PSD. Há uma reacção generalizada a esta política que tarda em renovar-se e em reduzir custos.
Os partidos que tratem depressa de regenerar a democracia e lutar contra a corrupção. Por outro lado que cidadãos independentes tenham acesso a cargos públicos sem constrangimentos. Ou um dia destes o radicalismo toma conta de Portugal e acaba com os partidos políticos.
Por vezes tenho vergonha do meu país e não poder defendê-lo. Vivemos num alforge democrático.