A influência de Alemanha e França nas decisões da União Europeia “não é muito diferente do passado”, diz o Presidente da República. No entanto, Cavaco Silva salienta que os dois países “nunca haviam ganho a visibilidade dos últimos tempos, projetando agora a ideia que tudo é decidido a dois”. Cavaco, em entrevista à TSF, dá um voto de confiança ao Governo e teme por medidas de austeridade adicionais para grupos vulneráveis.
Alemanha e França “sempre tiveram grande influência no processo de construção europeia”, segundo Cavaco Silva. “Já era assim quando eu era primeiro-ministro”, acrescenta, em entrevista à TSF. No entanto, o Presidente da República defende que os países liderados por Merkel e Sarkozy “nunca ganharam uma visibilidade como a que acontece nos últimos tempos”.
“França e Alemanha projetam a ideia de que tudo é decidido a dois e só depois apresentado aos 27, de acordo com o que vinha do diretório. Isto põe em causa a coesão e o espírito de solidariedade da Europa”, alerta Cavaco, sustentando que, neste quadro, “a Europa fica a perder”, em relação ao resto do mundo.
Nesta entrevista, o chefe de Estado abordou a propalada necessidade de um novo empréstimo por parte de Portugal, afastando esse cenário, desde que Portugal consiga cumprir o acordo estabelecido com a troika.
“Três Conselhos Europeus afirmaram claramente o seguinte: se os países que cumprirem integralmente o programa de apoio não conseguirem ter acesso aos mercados financeiros, por razões que lhes são exteriores, poderão continuar a beneficiar do apoio das instituições europeias”, disse Cavaco Silva.
Aliás, o Presidente da República considera excessivas algumas críticas feitas a países que estão em dificuldade. “Não se critique apenas Grécia, Irlanda e Portugal. Estes países podem ter ultrapassado limites de dívida. Mas se o fizeram foi porque a supervisão também não foi realizada com eficácia”, lembra.
Cavaco Silva acredita “no bom senso dos técnicos do Fundo Monetário Internacional e na Comissão Europeia”. E deposita um voto de confiança no executivo de Passos Coelho. “Acredito que o Governo está consciente sobre o que deve apresentar às instituições”, adiantou o Presidente da República.
Nesta entrevista à TSF, Cavaco aconselhou o Governo a evitar medidas de austeridade adicionais sobre famílias em dificuldade. Cavaco Silva teme “pelos idosos, pelas famílias que enfrentam quebras abruptas de rendimento, que estão incapazes de suportar custos com a educação”.
O chefe de Estado tem ainda receio do fenómeno de novos pobres. “Estes grupos de pessoas não podem ser alvo de medidas de austeridade adicional”, conclui.